Numa das cenas mais inesperadas da teledramaturgia da Globo, a emissora dos Marinho fez um elogio rasgado à política de cotas raciais, no episódio de ontem da novela Babilônia; ao conceder um bônus a sua melhor advogada, a jovem negra Paula (Sheron Menezzes), Teresa (Fernanda Montenegro) ouviu: "Sabe o que eu queria fazer com esse cheque? Esfregar na cara de todas as pessoas que riram de mim por eu ter entrado na faculdade pelo sistema de cotas". Em seguida, respondeu: "beijinho no ombro pras invejosas"; alguns anos atrás, o superpoderoso Ali Kamel, diretor da Globo, publicou o livro "Não somos racistas", um libelo contra a política de cotas; a Globo agora é progressista ou aí tem coisa?
Deu a louca na Rede Globo. Ou há algo que ainda não se poder enxergar com clareza. Em 2006, um dos mais próximos executivos da família Marinho, o jornalista Ali Kamel, publicou o livro "Não somos racistas", um libelo contra a política de cotas raciais – desde então, esta foi a posição editorial de todos os veículos de comunicação da Globo.
Ontem, no entanto, na novela Babilônia, o grupo dos Marinho deu um giro de 180 graus na novela Babilônia, que vem sofrendo críticas de setores conservadores desde o primeiro capítulo, quando a novela estreou com o beijo gay de Fernanda Montenegro e Natália Thimberg.
Desta vez, a polêmica envolveu a política de cotas raciais, numa cena exibida no capítulo desta segunda-feira. Ao conceder um bônus polpudo à sua melhor advogada, a jovem negra Paula (Sheron Menezzes), Teresa (Fernanda Montenegro) ouviu: "Sabe o que eu queria fazer com esse cheque? Esfregar na cara de todas as pessoas que riram de mim por eu ter entrado na faculdade pelo sistema de cotas".
Em seguida, respondeu: "beijinho no ombro pras invejosas".
Evidentemente, uma cena com esse teor político, no momento em que o Brasil é sacudido por uma onda neoconservadora, não entraria numa novela da Globo sem que tivesse sido discutida internamente. Mais do que simplesmente criar polêmica, ao discutir o tema das cotas raciais, a Globo parece disposta a assumir pautas mais progressistas.
Será que os Marinho decidiram mandar um "beijinho no ombro" para Ali Kamel? Confira, abaixo, a sinopse do livro "Não somos racistas", que fala do medo do autor em relação à política de cotas:
SINOPSE:
'Não somos racistas' é um livro nascido do espanto. Movido pelo instinto de repórter, Ali Kamel, diretor de jornalismo da Rede Globo, começou a perceber que a política de cotas proposta pelo Governo Lula - e que pode ser aprovada em breve pelo Senado - divide o Brasil em duas cores, eliminando todas as nuances características da nossa miscigenação. Ali constata, estarrecido, que, nesta divisão entre brancos e não-brancos, os 'não-brancos' são considerados todos negros. O primeiro capítulo de 'Não somos racistas' mostra como a política de cotas começou a ser construída no governo Fernando Henrique Cardoso. Mostra, ainda, como o jovem sociólogo Fernando Henrique foi uma das cabeças de um movimento que dominou parte da intelectualidade nacional nos anos 1950. Um movimento que se afastava do conceito de multiplicidade e democracia racial proposto por Gilberto Freyre em obras como 'Casa grande e senzala' e dividia o Brasil entre duas cores; negros e brancos. O livro de Ali Kamel começou a se desenhar em 2003, quando ele passou a publicar, quinzenalmente, uma série de artigos sobre as cotas no jornal 'O Globo'. Neles, constatava o sumiço dos pardos e dos miscigenados nas estatísticas raciais brasileiras. Apontava, também, para o fato de que o branco pobre tem a mesma dificuldade de acesso à educação que um negro pobre, levantando a hipótese de que o maior problema do país talvez não seja a segregação pela cor da pele - e sim pela quantidade de dinheiro que se carrega no bolso. 'Não somos racistas' aprofunda e sistematiza as idéias apresentadas pelo jornalista naqueles artigos; a negação da miscigenação; o 'olho torto' das estatísticas, que escamoteiam problemas sociais na divisão da população por cores; a situação de negros e brancos no mercado de trabalho; o medo de que uma política de cotas, posta em prática, construa uma separação entre cores que nunca existiu, de fato, no Brasil, promovendo o ódio racial; os estudos científicos que provam que raças não existem e, portanto, não pode haver tratamento desigual para seres humanos iguais.
Por Brasil 247
terça-feira, 31 de março de 2015
CASO RBS É UM DOS MAIS GRAVES DA OPERAÇÃO ZELOTES
Segundo o Ministério Público, rede de comunicação presidida por Eduardo Sirotsky está, ao lado do grupo Gerdau, entre os casos que há indícios mais fortes de eventuais irregularidades na Receita Federal; os 74 processos abertos na operação Zelotes somam R$ 19 bilhões; segundo a PF, "já foram, efetivamente, identificados prejuízos de quase R$ 6 bilhões"; RBS teria pago R$ 15 milhões para eliminar dívida de R$ 150 milhões
O grupo RBS, presidido por Eduardo Sirotsky está, ao lado do grupo Gerdau, entre os casos que há indícios mais fortes de eventuais irregularidades na Receita Federal. É o que aponta o Ministério Público no âmbito da operação Zelotes, segundo reportagem de Natuza Nery.
Até agora, a Polícia Federal acredita que ao menos 12 empresas negociaram ou pagaram propina para reduzir débitos com a Receita. Os 74 processos abertos na operação somam R$ 19 bilhões. Segundo a PF, "já foram, efetivamente, identificados prejuízos de quase R$ 6 bilhões".
A quadrilha fazia um “levantamento” dos grandes processos no Carf (Conselho Administrativo de Recursos Fiscais), procurava empresas com altos débitos junto ao Fisco e oferecia "facilidades", como anulação de multas. O esquema teria sido iniciado em 2005, mas começou a ser investigado pela PF em 2013.
Por Brasil247
O grupo RBS, presidido por Eduardo Sirotsky está, ao lado do grupo Gerdau, entre os casos que há indícios mais fortes de eventuais irregularidades na Receita Federal. É o que aponta o Ministério Público no âmbito da operação Zelotes, segundo reportagem de Natuza Nery.
Até agora, a Polícia Federal acredita que ao menos 12 empresas negociaram ou pagaram propina para reduzir débitos com a Receita. Os 74 processos abertos na operação somam R$ 19 bilhões. Segundo a PF, "já foram, efetivamente, identificados prejuízos de quase R$ 6 bilhões".
A quadrilha fazia um “levantamento” dos grandes processos no Carf (Conselho Administrativo de Recursos Fiscais), procurava empresas com altos débitos junto ao Fisco e oferecia "facilidades", como anulação de multas. O esquema teria sido iniciado em 2005, mas começou a ser investigado pela PF em 2013.
Por Brasil247
segunda-feira, 30 de março de 2015
Mídia ignora fraude de R$ 19 bilhões
Por Helena Sthephanowitz, na Rede Brasil Atual:
Na quinta-feira (26), a Polícia Federal realizou a Operação Zelotes na sede dos bancos Safra, Bradesco, Santander, Pactual e Bank Boston, as montadoras Ford e Mitsubishi, além da gigante da alimentação BR Foods no esquema, que por enquanto, deu prejuízo de R$ 19 bilhões à Receita Federal a partir da anulação ou redução indevida de multas aplicadas pelo órgão em São Paulo. A PF atuou em conjunto com a Corregedoria-Geral do Ministério da Fazenda, Receita Federal e Ministério Público Federal, para cumprir mandatos de busca e apreensão dentro da investigação de um esquema que corromperia conselheiros e funcionários do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf), para anular, reduzir ou atrasar cobrança de impostos pela Receita Federal.
Segundo a PF, a investigação já constatou R$ 5,7 bilhões de impostos sonegados neste esquema, mas os valores suspeitos, ainda em investigação, alcançam a estimativa de R$ 19 bilhões. É um valor muito superior aos desvios na Petrobras estimados pelo Ministério Público Federal na Operação Lava Jato. Nas operações de busca realizadas durante a manhã em Brasília, São Paulo e Ceará, foram apreendidos R$ 1 milhão em dinheiro vivo e carros de luxo.
Todo e qualquer tipo de corrupção é nefasto e não existe corrupção "melhor" do que outra. Claro que os efeitos piores para a sociedade sempre são daqueles desvios que causam maior dano ao erário, reduzindo verbas públicas. Mesmo assim, há uma ironia conceitual na sonegação que é pouco abordada. Se um hospital público é construído com dinheiro dos impostos cometendo crimes de superfaturamento e propinas, uma parte do dinheiro público é roubada. Mas se sonegadores subornam fiscais e nem chegam a pagar os impostos devidos, roubam o hospital inteiro, já que nem chega a ser construído por falta da verba, que haveria se o imposto fosse recolhido. A sonegação é o crime do "rouba e não faz", com duplo prejuízo para a sociedade.
Porém, a sonegação atrai pouca atenção e pouco repúdio da mídia empresarial oligárquica. Basta comparar o tempo e espaço no noticiário dedicado a cada caso, além da própria ênfase dada. A Operação Lava Jato vai fazer aniversário de um ano que não sai do noticiário, tendo ou não notícia nova relevante. Já as contas secretas de brasileiros no banco HSBC suíço tem um tratamento muito mais discreto. E a Operação Zelotes caminha para ter um tratamento mais discreto ainda, apesar do rombo estimado de R$ 19 bilhões.
Parece até que a sonegação é vista com certa simpatia por setores mais ricos da sociedade, onde se incluem alguns donos da mídia, como se sonegação fosse apenas um deslize, ou até um "desagravo" à obrigação que todos têm de pagar impostos na forma da lei para vivermos em uma sociedade civilizada.
Voltando ao Carf, o órgão se assemelha a um tribunal no âmbito administrativo, procurando resolver contestações sobre cobrança de impostos antes de ir à disputa judicial. Tem metade de seus membros composta por funcionários de carreira da Receita Federal, e a outra metade composta por representante dos contribuintes indicados por entidades classistas empresariais. Em geral, indicam advogados tributaristas. Havendo empate em um julgamento, um representante do fisco dá o voto de minerva, com o objetivo de a autoridade tributária deter maioria e ter a palavra final em caso de divergência equilibrada.
Essa estrutura existente há 80 anos que parecia equilibrada para ambos os lados, hoje julga recursos que envolvem R$ 565 bilhões em impostos. Os altos valores envolvidos atraíram a cobiça e a corrupção.
De acordo com a PF, escritórios de advocacia e consultoria intermediavam "facilidades" entre os contribuintes e os conselheiros que julgavam seus processos. Empresas de consultoria e honorários de advogados seriam usados como meio de lavar dinheiro para pagar propina.
Segundo a PF, são investigados desde 2013 cerca de 70 processos administrativos sob suspeita. Os investigadores não revelaram nomes das empresas nem das pessoas envolvidas, alegando sigilo. Mas informaram que são investigados grandes bancos, empresas do ramo automobilístico, da indústria, da siderurgia e do agronegócio.
A sede do Safra foi um dos alvos dos mandados de busca e apreensão. Mas não foi informado se o banco é investigado ou se é alguma pessoa física que trabalha no banco. Um dado relevante é o diretor de questões tributárias do banco ("Tax Diretor") e diretor setorial tributário da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Carlos Pelá, ser também conselheiro do Carf.
Empresas do grupo Gerdau também seriam alvo da operação segundo o noticiário. As principais suspeitas recaem sobre empresas que contrataram as consultorias que exerciam influência junto ao Carf para controlar o resultado favorável de julgamentos.
Por Altamiro Borges
Na quinta-feira (26), a Polícia Federal realizou a Operação Zelotes na sede dos bancos Safra, Bradesco, Santander, Pactual e Bank Boston, as montadoras Ford e Mitsubishi, além da gigante da alimentação BR Foods no esquema, que por enquanto, deu prejuízo de R$ 19 bilhões à Receita Federal a partir da anulação ou redução indevida de multas aplicadas pelo órgão em São Paulo. A PF atuou em conjunto com a Corregedoria-Geral do Ministério da Fazenda, Receita Federal e Ministério Público Federal, para cumprir mandatos de busca e apreensão dentro da investigação de um esquema que corromperia conselheiros e funcionários do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf), para anular, reduzir ou atrasar cobrança de impostos pela Receita Federal.
Segundo a PF, a investigação já constatou R$ 5,7 bilhões de impostos sonegados neste esquema, mas os valores suspeitos, ainda em investigação, alcançam a estimativa de R$ 19 bilhões. É um valor muito superior aos desvios na Petrobras estimados pelo Ministério Público Federal na Operação Lava Jato. Nas operações de busca realizadas durante a manhã em Brasília, São Paulo e Ceará, foram apreendidos R$ 1 milhão em dinheiro vivo e carros de luxo.
Todo e qualquer tipo de corrupção é nefasto e não existe corrupção "melhor" do que outra. Claro que os efeitos piores para a sociedade sempre são daqueles desvios que causam maior dano ao erário, reduzindo verbas públicas. Mesmo assim, há uma ironia conceitual na sonegação que é pouco abordada. Se um hospital público é construído com dinheiro dos impostos cometendo crimes de superfaturamento e propinas, uma parte do dinheiro público é roubada. Mas se sonegadores subornam fiscais e nem chegam a pagar os impostos devidos, roubam o hospital inteiro, já que nem chega a ser construído por falta da verba, que haveria se o imposto fosse recolhido. A sonegação é o crime do "rouba e não faz", com duplo prejuízo para a sociedade.
Porém, a sonegação atrai pouca atenção e pouco repúdio da mídia empresarial oligárquica. Basta comparar o tempo e espaço no noticiário dedicado a cada caso, além da própria ênfase dada. A Operação Lava Jato vai fazer aniversário de um ano que não sai do noticiário, tendo ou não notícia nova relevante. Já as contas secretas de brasileiros no banco HSBC suíço tem um tratamento muito mais discreto. E a Operação Zelotes caminha para ter um tratamento mais discreto ainda, apesar do rombo estimado de R$ 19 bilhões.
Parece até que a sonegação é vista com certa simpatia por setores mais ricos da sociedade, onde se incluem alguns donos da mídia, como se sonegação fosse apenas um deslize, ou até um "desagravo" à obrigação que todos têm de pagar impostos na forma da lei para vivermos em uma sociedade civilizada.
Voltando ao Carf, o órgão se assemelha a um tribunal no âmbito administrativo, procurando resolver contestações sobre cobrança de impostos antes de ir à disputa judicial. Tem metade de seus membros composta por funcionários de carreira da Receita Federal, e a outra metade composta por representante dos contribuintes indicados por entidades classistas empresariais. Em geral, indicam advogados tributaristas. Havendo empate em um julgamento, um representante do fisco dá o voto de minerva, com o objetivo de a autoridade tributária deter maioria e ter a palavra final em caso de divergência equilibrada.
Essa estrutura existente há 80 anos que parecia equilibrada para ambos os lados, hoje julga recursos que envolvem R$ 565 bilhões em impostos. Os altos valores envolvidos atraíram a cobiça e a corrupção.
De acordo com a PF, escritórios de advocacia e consultoria intermediavam "facilidades" entre os contribuintes e os conselheiros que julgavam seus processos. Empresas de consultoria e honorários de advogados seriam usados como meio de lavar dinheiro para pagar propina.
Segundo a PF, são investigados desde 2013 cerca de 70 processos administrativos sob suspeita. Os investigadores não revelaram nomes das empresas nem das pessoas envolvidas, alegando sigilo. Mas informaram que são investigados grandes bancos, empresas do ramo automobilístico, da indústria, da siderurgia e do agronegócio.
A sede do Safra foi um dos alvos dos mandados de busca e apreensão. Mas não foi informado se o banco é investigado ou se é alguma pessoa física que trabalha no banco. Um dado relevante é o diretor de questões tributárias do banco ("Tax Diretor") e diretor setorial tributário da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Carlos Pelá, ser também conselheiro do Carf.
Empresas do grupo Gerdau também seriam alvo da operação segundo o noticiário. As principais suspeitas recaem sobre empresas que contrataram as consultorias que exerciam influência junto ao Carf para controlar o resultado favorável de julgamentos.
Por Altamiro Borges
domingo, 29 de março de 2015
Governo não tem projeto sobre a mídia
Por Márcia Xavier, no site Vermelho:
O marco regulatório da comunicação em vigência no Brasil é da época do governo João Goulart. Época em que não havia internet e TV digital, entre outras novas formas de comunicação. Essa defasagem do tempo exige um novo marco regulatório, mas apesar dessa necessidade, o governo ainda não tem uma proposta de regulamentação da mídia.
O anúncio foi feito pelo ministro das Comunicações, Ricardo Berzoini, que participou, nesta quinta-feira (27) de uma comissão geral na Câmara dos Deputados. Ele disse que pretende abrir um debate sobre o assunto para elaboração de uma proposta que deve ser apresentada ao país.
“Muito se falou nos últimos dois e três meses que o governo teria proposta para apresentar. O governo não vai apresentar proposta nesse momento. Vamos abrir o debate e em algum momento, este ano ou no próximo ano, vamos construir entendimento que seja útil a sociedade brasileira, não que seja útil ao ministro, à presidência ou qualquer um dos integrantes do Congresso nacional”, afirmou o ministro
O anúncio surpreendeu o deputado Aliel Machado (PCdoB-PR), que fez uma cobrança ao governo da regulamentação da mídia. Segundo o parlamentar, a regulamentação não significa censura. O que queremos é a regulamentação econômica, que está prevista na Constituição e não é respeitada.
Para ele, “a concentração dos meios de comunicação nas mãos de poucas famílias prejudica em muito o desenvolvimento do país e é responsável inclusive pela crise política que vive o país. Esse é o desafio desse governo, que já sofreu na pele o que representa a atuação da mídia, que pauta o que deve ser discutido no Brasil. Nós não queremos restringir qualquer tipo de opinião, pelo contrário, o que queremos é que todos os setores da sociedade tenham direito a se manifestar. Isso é democratizar a comunicação, que não pode ficar restrita a poucas famílias.”
Sem preconceito e precondição
O ministro disse que para elaborar o projeto de regulação da mídia vai buscar o diálogo com a sociedade e incluir outros ministérios, como a Ciência e Tecnologia, Educação, Cultura e Direitos Humanos, nesse debate. E enfatizou que para estabelecer esse diálogo, não deve haver “preconceito e precondição.”
“Queremos dialogar sobre atual situação e aquilo que pode ou não ser aperfeiçoado e atualizado. Cada um de nós pode ter uma convicção, a sua visão sobre esse processo, mas nada se construirá de útil se não tivermos antes um processo de nivelamento de informações para discutir com profundidade o que é a regulação da mídia”, disse o ministro, destacando que muitos de nós não tem informação precisa sobre o assunto.
Berzoini disse que nesses debates, cujo cronograma será apresentado pelo Ministério das Comunicações, serão levados em consideração também os paradigmas internacionais que funcionam ou não, os que asseguram liberdade de expressão, concorrência e garante direitos do cidadão e da coletividade.
Mais avanços
O ministro ocupou a maior parte do tempo de seu discurso na apresentação de dados e números das políticas públicas desenvolvidas pelo Ministério das Comunicações. Um país com o tamanho do Brasil não pode ficar de fora dos avanços cada vez maiores na área da telecomunicação, afirmou o ministro, destacando que o grande desafio é garantir acesso às comunicações ao maior número de pessoas, com valor compatível com o rendimento da população e até atender as populações carentes.
Para ele, tudo isso deve ser feito com a intervenção do governo, sem resultado danoso a competição do mercado, mas garantindo que todas as comunidades tenham acesso a serviços de banda larga fixa e móvel, internet, TV digital e diversas outras formas de comunicação.
Ele falou sobre a estrutura do Ministério e as diversas ações, que inclui, além das várias secretarias - telecomunicações, comunicação eletrônica e inclusão digital, as empresas como Anatel, Correios e Telebras.
O ministro disse que a demanda por todos esses serviços tem crescido no Brasil e o país tem conseguido responder a demanda e tem se preparado para atender o crescimento previsto para os próximos anos.
Sobre a explanação do ministro nas outras áreas do Ministério, o deputado Aliel machado afirmou que são registrados avanços, resultado dos últimos anos do governo progressista, e que precisa continuar avançado.
Por Altamiro Borges
O marco regulatório da comunicação em vigência no Brasil é da época do governo João Goulart. Época em que não havia internet e TV digital, entre outras novas formas de comunicação. Essa defasagem do tempo exige um novo marco regulatório, mas apesar dessa necessidade, o governo ainda não tem uma proposta de regulamentação da mídia.
O anúncio foi feito pelo ministro das Comunicações, Ricardo Berzoini, que participou, nesta quinta-feira (27) de uma comissão geral na Câmara dos Deputados. Ele disse que pretende abrir um debate sobre o assunto para elaboração de uma proposta que deve ser apresentada ao país.
“Muito se falou nos últimos dois e três meses que o governo teria proposta para apresentar. O governo não vai apresentar proposta nesse momento. Vamos abrir o debate e em algum momento, este ano ou no próximo ano, vamos construir entendimento que seja útil a sociedade brasileira, não que seja útil ao ministro, à presidência ou qualquer um dos integrantes do Congresso nacional”, afirmou o ministro
O anúncio surpreendeu o deputado Aliel Machado (PCdoB-PR), que fez uma cobrança ao governo da regulamentação da mídia. Segundo o parlamentar, a regulamentação não significa censura. O que queremos é a regulamentação econômica, que está prevista na Constituição e não é respeitada.
Para ele, “a concentração dos meios de comunicação nas mãos de poucas famílias prejudica em muito o desenvolvimento do país e é responsável inclusive pela crise política que vive o país. Esse é o desafio desse governo, que já sofreu na pele o que representa a atuação da mídia, que pauta o que deve ser discutido no Brasil. Nós não queremos restringir qualquer tipo de opinião, pelo contrário, o que queremos é que todos os setores da sociedade tenham direito a se manifestar. Isso é democratizar a comunicação, que não pode ficar restrita a poucas famílias.”
Sem preconceito e precondição
O ministro disse que para elaborar o projeto de regulação da mídia vai buscar o diálogo com a sociedade e incluir outros ministérios, como a Ciência e Tecnologia, Educação, Cultura e Direitos Humanos, nesse debate. E enfatizou que para estabelecer esse diálogo, não deve haver “preconceito e precondição.”
“Queremos dialogar sobre atual situação e aquilo que pode ou não ser aperfeiçoado e atualizado. Cada um de nós pode ter uma convicção, a sua visão sobre esse processo, mas nada se construirá de útil se não tivermos antes um processo de nivelamento de informações para discutir com profundidade o que é a regulação da mídia”, disse o ministro, destacando que muitos de nós não tem informação precisa sobre o assunto.
Berzoini disse que nesses debates, cujo cronograma será apresentado pelo Ministério das Comunicações, serão levados em consideração também os paradigmas internacionais que funcionam ou não, os que asseguram liberdade de expressão, concorrência e garante direitos do cidadão e da coletividade.
Mais avanços
O ministro ocupou a maior parte do tempo de seu discurso na apresentação de dados e números das políticas públicas desenvolvidas pelo Ministério das Comunicações. Um país com o tamanho do Brasil não pode ficar de fora dos avanços cada vez maiores na área da telecomunicação, afirmou o ministro, destacando que o grande desafio é garantir acesso às comunicações ao maior número de pessoas, com valor compatível com o rendimento da população e até atender as populações carentes.
Para ele, tudo isso deve ser feito com a intervenção do governo, sem resultado danoso a competição do mercado, mas garantindo que todas as comunidades tenham acesso a serviços de banda larga fixa e móvel, internet, TV digital e diversas outras formas de comunicação.
Ele falou sobre a estrutura do Ministério e as diversas ações, que inclui, além das várias secretarias - telecomunicações, comunicação eletrônica e inclusão digital, as empresas como Anatel, Correios e Telebras.
O ministro disse que a demanda por todos esses serviços tem crescido no Brasil e o país tem conseguido responder a demanda e tem se preparado para atender o crescimento previsto para os próximos anos.
Sobre a explanação do ministro nas outras áreas do Ministério, o deputado Aliel machado afirmou que são registrados avanços, resultado dos últimos anos do governo progressista, e que precisa continuar avançado.
Por Altamiro Borges
sábado, 28 de março de 2015
O anti-Villa: o cientista social que pegou a Globo de surpresa ao não fazer demagogia
Postado em 27 mar 2015por : Kiko Nogueira
O professor Vitor Amorim de Angelo, da Universidade de Vila Velha, tem mestrado e doutorado em Ciências Sociais e Políticas com passagem pelo Centre d’Histoire do Institut d’Études Politiques de Paris (SciencesPo).
É também pesquisador do Institut des Sciences Sociales du Politique da Université de Paris Ouest-Nanterre La Défense. Apesar desse currículo, expressa-se com muita clareza (uma raridade para acadêmicos brasileiros). Pensa bem e articula bem.
Vitor fez uma participação num telejornal da Globo que foi fruto, provavelmente, de um erro da produção. O fato é que ele não deverá voltar tão cedo. A não ser que mude de ideia.
O vídeo foi postado no blog da Maria Frô. No Bom Dia ES, foi convidado a comentar a manifestação do dia 15 de março e, no bojo disso, a corrupção. Ao invés de concordar com as teses do apresentador — o clássico: PT inventou a roubalheira, os protestos eram apartidários etc —, Vítor ofereceu alguns instantes de sobriedade, perspectiva e imparcialidade.
“Esse problema não ataca apenas o executivo. Não é só na política, mas na sociedade. A corrupção está disseminada. Não significa diminuir a culpa de ninguém. Apenas tratar um problema complexo da maneira como ele deve ser tratado. Ao colocar a culpa só no executivo, nós terminamos mascarando a questão”.
Opa. Alguém falando em complexidade?
Num determinado momento, o entrevistador aborda a entrevista dos ministros Cardozo e Rossetto após as manifestações. Rossetto afirmou que quem participou foram as pessoas que não votaram em Dilma. “Miriam Leitão disse que não é bem por aí. O senhor concorda com a Miriam ou com o ministro?”
O acadêmico concordou com o ministro, infelizmente, acrescentando alguns dados: eram eleitores de Aécio e de Marina, segundo uma pesquisa. Complementou: “A democracia, é bom lembrar, é um regime de confiança, não de adesão. Portanto, não é uma opção aderir ou não ao resultado. Você faz parte desse sistema político no qual ela é presidente. O inverso também é verdadeiro: você venceu, mas não pode deixar de governar para aqueles que não te elegeram”.
O jornalista centrou fogo no escândalo da Petrobras. Compassivo, Vitor voltaria ao seu ponto. “O que estou tentando dizer é que, num olhar um pouco mais refinado, a gente não pode reduzir a corrupção apenas ao PT”.
Vitor Amorim é sóbrio e ajuda a entender o momento político sem respostas óbvias e sem babar na gravata. Virtudes que o farão, provavelmente, nunca mais aparecer novamente para comentar qualquer coisa na Globo e congêneres. Pode ter sido ingênuo. Tendo a achar que foi corajoso.
É muito mais fácil convocar alguém como Marco Antonio Villa. Com historiadores como Villa, não há a menor chance de erro, não há espaço para a dúvida ou a reflexão. Villa é um mestre da simplificação rasteira. Onde há complexidade, ele traz uma explicação de bolso vagabunda. Desde a Babilônia, o culpado pelas tragédias da humanidade é o mesmo de sempre. Villa facilita o serviço de banalizar o mundo e entregar uma rapadura odiosa para a plateia, que a engole sem mastigar.
Pra que complicar? Chama o Villa, ué.
POR Diario do Centro do Mundo
O professor Vitor Amorim de Angelo, da Universidade de Vila Velha, tem mestrado e doutorado em Ciências Sociais e Políticas com passagem pelo Centre d’Histoire do Institut d’Études Politiques de Paris (SciencesPo).
É também pesquisador do Institut des Sciences Sociales du Politique da Université de Paris Ouest-Nanterre La Défense. Apesar desse currículo, expressa-se com muita clareza (uma raridade para acadêmicos brasileiros). Pensa bem e articula bem.
Vitor fez uma participação num telejornal da Globo que foi fruto, provavelmente, de um erro da produção. O fato é que ele não deverá voltar tão cedo. A não ser que mude de ideia.
O vídeo foi postado no blog da Maria Frô. No Bom Dia ES, foi convidado a comentar a manifestação do dia 15 de março e, no bojo disso, a corrupção. Ao invés de concordar com as teses do apresentador — o clássico: PT inventou a roubalheira, os protestos eram apartidários etc —, Vítor ofereceu alguns instantes de sobriedade, perspectiva e imparcialidade.
“Esse problema não ataca apenas o executivo. Não é só na política, mas na sociedade. A corrupção está disseminada. Não significa diminuir a culpa de ninguém. Apenas tratar um problema complexo da maneira como ele deve ser tratado. Ao colocar a culpa só no executivo, nós terminamos mascarando a questão”.
Opa. Alguém falando em complexidade?
Num determinado momento, o entrevistador aborda a entrevista dos ministros Cardozo e Rossetto após as manifestações. Rossetto afirmou que quem participou foram as pessoas que não votaram em Dilma. “Miriam Leitão disse que não é bem por aí. O senhor concorda com a Miriam ou com o ministro?”
O acadêmico concordou com o ministro, infelizmente, acrescentando alguns dados: eram eleitores de Aécio e de Marina, segundo uma pesquisa. Complementou: “A democracia, é bom lembrar, é um regime de confiança, não de adesão. Portanto, não é uma opção aderir ou não ao resultado. Você faz parte desse sistema político no qual ela é presidente. O inverso também é verdadeiro: você venceu, mas não pode deixar de governar para aqueles que não te elegeram”.
O jornalista centrou fogo no escândalo da Petrobras. Compassivo, Vitor voltaria ao seu ponto. “O que estou tentando dizer é que, num olhar um pouco mais refinado, a gente não pode reduzir a corrupção apenas ao PT”.
Vitor Amorim é sóbrio e ajuda a entender o momento político sem respostas óbvias e sem babar na gravata. Virtudes que o farão, provavelmente, nunca mais aparecer novamente para comentar qualquer coisa na Globo e congêneres. Pode ter sido ingênuo. Tendo a achar que foi corajoso.
É muito mais fácil convocar alguém como Marco Antonio Villa. Com historiadores como Villa, não há a menor chance de erro, não há espaço para a dúvida ou a reflexão. Villa é um mestre da simplificação rasteira. Onde há complexidade, ele traz uma explicação de bolso vagabunda. Desde a Babilônia, o culpado pelas tragédias da humanidade é o mesmo de sempre. Villa facilita o serviço de banalizar o mundo e entregar uma rapadura odiosa para a plateia, que a engole sem mastigar.
Pra que complicar? Chama o Villa, ué.
POR Diario do Centro do Mundo
quarta-feira, 25 de março de 2015
O que a imprensa não viu nas manifestações de março
Tudo indica que as manifestações de rua tendem a ocupar um espaço cada vez maior na definição do impasse entre adeptos e críticos do governo da presidente Dilma Rousseff. Isso obrigará a imprensa a repensar a cobertura de protestos de rua daqui por diante. Nos dias 13 e 15 de março, a quase totalidade da imprensa nacional enfocou as manifestações como se elas fossem uma espécie de plebiscito, priorizando a contagem dos participantes e a comparação numérica entre os dois eventos de rua. Uma abordagem editorial coerente com a estratégia do terceiro turno apregoada por alguns políticos oposicionistas.

As manifestações de rua, contra e a favor do governo Dilma, tendem a se transformar em materializações daquilo que já rola nas redes sociais. O que alguns chamaram de desvarios de radicais estampados em cartazes e faixas na verdade circulam diariamente na internet. A análise dos protestos não pode mais ser feita com base em valores e parâmetros da era pré-internet porque estamos diante de uma nova realidade: a da avalancha de percepções, opiniões e propostas de uma forma caótica porque respondem a contextos muito diversificados e específicos. A internet alimenta as ruas e estas retroalimentam as redes sociais.
As próximas manifestações provavelmente proporcionarão novos elementos para compreender por que quem saiu às ruas na primeira quinzena de março foi mais por uma vontade pessoal do que pela convocação de algum partido ou movimento político. Estamos ingressando numa era em que os indivíduos começam a ter mais protagonismo do que as organizações. E neste ambiente o caos é inevitável, porque não há mais palavras de ordem determinadas hierarquicamente. Estamos na era da avalancha informativa cujas consequências para nosso dia a dia político foram exemplarmente definidas pelo cientista norte-americano Alex Pentland, no seu livro Social Physics (Física Social):
“Para entender o nosso novo mundo, nós devemos ampliar ideias familiares sobre economia e política para incluir os efeitos de milhões de indivíduos aprendendo uns dos outros, influenciando-se mutuamente na formação de opiniões. Não podemos mais pensar como indivíduos que tomam decisões de forma cautelosa; somos obrigados a incluir em nossas decisões individuais os efeitos da dinâmica social que gera bolhas econômicas, revoluções políticas e a economia da internet”. [Alex Pentland, Social Physics: How Good Ideas Spread (Física Social: Como as boas ideias se espalham) Editora Penguin Press, 2014. Citação traduzida por mim.]
Cobrir o caos das manifestações de rua transformou-se num grande desafio para a imprensa, se ela desejar manter um mínimo de relevância social. Caso contrário, as redes sociais tendem a ocupar cada vez mais espaços na forma como as pessoas se comunicam e se influenciam mutuamente. Quando os jornais e telejornais desprezam a parte socialmente mais interessante dos protestos, porque se preocupam apenas com o lado politico dos eventos, a mídia não leva em conta a diversidade de motivos que fazem as pessoas sair de casa para gritar contra ou a favor do governo.
É evidente que na massa de gente que foi às ruas surgiram cartazes estapafúrdios como o que pedia a execração do educador Paulo Freire dos currículos escolares e os que exigiam a entrega do poder ao Ministério Público, à Polícia Federal ou ao Exército. São expressões do caos cognitivo vivido por pessoas que recém estão se acostumando com a avalancha de informações e com a velocidade com que elas passam “de boca em boca” na internet. Se a imprensa estivesse realmente preocupada em reconquistar a confiança de um público perplexo com as consequências das mudanças tecnológicas, deveria deixar de aguçar paranoias ou estimular atitudes plebiscitárias. As pessoas querem saber por que as coisas acontecem, pois já estão a par do que acontece.
A repetição futura de novas manifestações não resulta apenas de uma estratégia da oposição mas principalmente porque as pessoas, contra e a favor, descobriram como compartilhar em carne e osso a insatisfação que já compartilham virtualmente na internet. Os protestos geraram o calor humano que as relações virtuais não permitem. A imprensa olimpicamente ignora esta realidade.
Por Observatorio da Imprensa
terça-feira, 24 de março de 2015
O fim da Rádio Nacional
Por Marco Antonio Monteiro em 24/03/2015 na edição 843
A Rádio Nacional do Rio de Janeiro acabou. A maior emissora da América Latina nos anos 40/50, aquela que precisou ser atacada por tropas militares em 1964 para que o golpe se consolidasse, responsável pela integração cultural e esportiva do Brasil, está morta. É verdade que a rádio ainda está no ar, mas um veículo de comunicação não morre apenas quando sai do ar ou deixa de ser impresso. Ele morre quando deixa de ter repercussão. E o triste é que isso aconteça num período de governo mais progressista, mas que não enxerga um palmo na área de comunicação.
Este texto foi escrito a pedido de amigos, já que trabalhei na Rádio Nacional por 10 anos (de 2004 a 2014), que ainda estão lá e alguns ouvintes que não se conformam que um patrimônio do País seja esquecido. A Rádio Nacional sofreu muitos golpes desde 1964, mas morre exatamente nas mãos de um governo que tinha a obrigação de defender e utilizar democraticamente a emissora. Nos últimos meses a crise se agravou a ponto da emissora ficar fora do ar durante o carnaval e, agora, reduzida a um vitrolão porque nenhum programa ao vivo pode ser feito porque o ar condicionado do prédio da TV Brasil não funciona (e estava precário desde dezembro).
Em 2004, o ex-presidente Lula reinaugurou o tradicional auditório no edifício A Noite, na Praça Mauá, assim como novos estúdios e um transmissor mais potente. Parecia que o governo entenderia a necessidade de uma rede estatal de rádios unificada. Como pode uma capital brasileira não ter uma emissora que preste contas do que o governo faz ou que valorize a cultura nacional? Vá a Portugal, Espanha, França, Argentina e veja se a rádio estatal não chega a todos os cantos?
Mas o esforço da direção no Rio não tinha correspondência em Brasília. Mesmo assim, em poucos meses, a emissora chegou ao quinto lugar no AM e em alguns horários ao terceiro e quarto lugares. Vale lembrar que em 2004/2005, Globo, Tupi e CBN eram apenas AM e não existia a Band News. Portanto, o AM no Rio de Janeiro ainda tinha relevância na área popular.
Solução jurídica
Logo se viu que a comunicação do governo era ruim e a Radiobras, com sede em Brasília, era dirigida por experimentalistas. O projeto foi esvaziado. Mas o desastre final seria a criação da EBC – Empresa Brasil de Comunicação. Surgida para unificar as emissoras do governo, matou a Acerp – que geria as Rádios MEC AM e FM e a TVE – e tinha alguma flexibilidade administrativa, e se transformou num enorme cabide para cargos de gestores, muitos concursados que não gostam de comunicação e uma direção que vive de ler relatórios.
O resultado é que a Rádio Nacional saiu de sua sede histórica (assim como a Rádio MEC teve o seu prédio fechado), foi jogada em estúdios improvisados da TV Brasil, perdeu profissionais e os poucos bons que ficaram estão abandonados. A emissora hoje é zero de audiência. Não serve para absolutamente nada porque não tem ouvintes, mas os relatórios sobre grandes feitos continuam a ser escritos para a leitura de Brasília. Aliás, pergunte a alguém da direção da EBC se sabe o que vai ao ar? Nesse caso não é preciso dizer que o jornalismo de uma emissora estatal de um governo cercado pela mídia repete textos dos jornais da grande imprensa. Pelo menos ninguém ouve.
A comunicação do governo Lula era ruim, nada ousada. Mas a de Dilma é um desastre amador, mas que serve como cabide de emprego. A Rádio Nacional integrou o Brasil de Norte a Sul numa época definidora do caráter único de nosso território, a primeira metade do século passado. Mas o mais importante é que um veículo desses, modernizado, na frequência FM, integrado às mídias sociais, ainda é fundamental como voz de resistência cultural e política. Que alguém entenda isso e tire a emissora da EBC, exerça o poder de colocar uma faixa de transmissão em cada capital e dê uma solução jurídica que permita a montagem de uma rede com profissionais que entendam a dimensão dessa empreitada. Só assim a Rádio Nacional poderá ressuscitar.
***
Marco Antonio Monteiro é jornalista desde 1985, trabalhou na Rádio JB, foi assessor de Imprensa do vice-prefeito do Rio entre 86/88; editor do programa Panorama Brasil, do Jornal da CBN Rio e entre 1994 e 2000 gerente de jornalismo do Sistema Globo de Rádio no Rio. Entre 2004 e 2014 apresentou e editou os programas Notícias da Manhã e Repórter Rio, na Rádio Nacional
Por Observatório da Imprensa
A Rádio Nacional do Rio de Janeiro acabou. A maior emissora da América Latina nos anos 40/50, aquela que precisou ser atacada por tropas militares em 1964 para que o golpe se consolidasse, responsável pela integração cultural e esportiva do Brasil, está morta. É verdade que a rádio ainda está no ar, mas um veículo de comunicação não morre apenas quando sai do ar ou deixa de ser impresso. Ele morre quando deixa de ter repercussão. E o triste é que isso aconteça num período de governo mais progressista, mas que não enxerga um palmo na área de comunicação.
Este texto foi escrito a pedido de amigos, já que trabalhei na Rádio Nacional por 10 anos (de 2004 a 2014), que ainda estão lá e alguns ouvintes que não se conformam que um patrimônio do País seja esquecido. A Rádio Nacional sofreu muitos golpes desde 1964, mas morre exatamente nas mãos de um governo que tinha a obrigação de defender e utilizar democraticamente a emissora. Nos últimos meses a crise se agravou a ponto da emissora ficar fora do ar durante o carnaval e, agora, reduzida a um vitrolão porque nenhum programa ao vivo pode ser feito porque o ar condicionado do prédio da TV Brasil não funciona (e estava precário desde dezembro).
Em 2004, o ex-presidente Lula reinaugurou o tradicional auditório no edifício A Noite, na Praça Mauá, assim como novos estúdios e um transmissor mais potente. Parecia que o governo entenderia a necessidade de uma rede estatal de rádios unificada. Como pode uma capital brasileira não ter uma emissora que preste contas do que o governo faz ou que valorize a cultura nacional? Vá a Portugal, Espanha, França, Argentina e veja se a rádio estatal não chega a todos os cantos?
Mas o esforço da direção no Rio não tinha correspondência em Brasília. Mesmo assim, em poucos meses, a emissora chegou ao quinto lugar no AM e em alguns horários ao terceiro e quarto lugares. Vale lembrar que em 2004/2005, Globo, Tupi e CBN eram apenas AM e não existia a Band News. Portanto, o AM no Rio de Janeiro ainda tinha relevância na área popular.
Solução jurídica
Logo se viu que a comunicação do governo era ruim e a Radiobras, com sede em Brasília, era dirigida por experimentalistas. O projeto foi esvaziado. Mas o desastre final seria a criação da EBC – Empresa Brasil de Comunicação. Surgida para unificar as emissoras do governo, matou a Acerp – que geria as Rádios MEC AM e FM e a TVE – e tinha alguma flexibilidade administrativa, e se transformou num enorme cabide para cargos de gestores, muitos concursados que não gostam de comunicação e uma direção que vive de ler relatórios.
O resultado é que a Rádio Nacional saiu de sua sede histórica (assim como a Rádio MEC teve o seu prédio fechado), foi jogada em estúdios improvisados da TV Brasil, perdeu profissionais e os poucos bons que ficaram estão abandonados. A emissora hoje é zero de audiência. Não serve para absolutamente nada porque não tem ouvintes, mas os relatórios sobre grandes feitos continuam a ser escritos para a leitura de Brasília. Aliás, pergunte a alguém da direção da EBC se sabe o que vai ao ar? Nesse caso não é preciso dizer que o jornalismo de uma emissora estatal de um governo cercado pela mídia repete textos dos jornais da grande imprensa. Pelo menos ninguém ouve.
A comunicação do governo Lula era ruim, nada ousada. Mas a de Dilma é um desastre amador, mas que serve como cabide de emprego. A Rádio Nacional integrou o Brasil de Norte a Sul numa época definidora do caráter único de nosso território, a primeira metade do século passado. Mas o mais importante é que um veículo desses, modernizado, na frequência FM, integrado às mídias sociais, ainda é fundamental como voz de resistência cultural e política. Que alguém entenda isso e tire a emissora da EBC, exerça o poder de colocar uma faixa de transmissão em cada capital e dê uma solução jurídica que permita a montagem de uma rede com profissionais que entendam a dimensão dessa empreitada. Só assim a Rádio Nacional poderá ressuscitar.
***
Marco Antonio Monteiro é jornalista desde 1985, trabalhou na Rádio JB, foi assessor de Imprensa do vice-prefeito do Rio entre 86/88; editor do programa Panorama Brasil, do Jornal da CBN Rio e entre 1994 e 2000 gerente de jornalismo do Sistema Globo de Rádio no Rio. Entre 2004 e 2014 apresentou e editou os programas Notícias da Manhã e Repórter Rio, na Rádio Nacional
Por Observatório da Imprensa
Isso é uma piada', diz professor da USP sobre silêncio da Globo no caso HSBC
O HSBC é um exemplo privilegiado de como corporações que estão no limite da criminalidade impõem na economia internacional seus interesses. O professor de filosofia da Universidade de São Paulo (USP) Vladimir Safatle indica a instituição financeira como exemplo de promiscuidade entre mercado financeiro, política e mídia, com raízes no crime, em entrevista à Rádio Brasil Atual hoje (20). “Desde sua criação, o banco tem as piores credenciais possíveis. Essa instituição bancária foi criada em 1860, depois da última guerra do Ópio entre Inglaterra e China, quando os ingleses forçaram a abertura dos portos chineses para que o tráfico da droga continuasse”, relata.
“Os chineses resolveram impedir o comércio de ópio porque a população já estava entrando em um processo de ser dizimada pela droga. Então, o banco foi criado exatamente para financiar o tráfico de drogas, entre outras coisas. E ele cresceu, a partir dos anos 70, comprando bancos dos Estados Unidos e da Europa, muitos dos quais tinham carteiras extremamente problemáticas", diz Safatle. "Foi o caso do banco do finado Edmond Safra, que tinha entre seus clientes traficantes de diamantes e negócios com a máfia russa. O Safra foi assassinado em uma situação, no mínimo, bastante misteriosa. Seu banco iria ser comprado pelo American Express e o negócio foi desfeito por causa de problemas internos."
Esse foi o processo de crescimento do banco, segundo o professor. "Comprou o Bamerindus aqui, um banco que estava com problemas enormes. E não só isso, quer dizer, ele é reincidente, faz anos que o banco tem sido julgado por várias instâncias mundiais, exatamente por esses seus negócios com tráfico, negócios ilícitos. Foi declarado culpado nos Estados Unidos por um caso que envolvia tráfico com colombianos e mexicanos. Só que pagou uma mixaria de um milhão e novecentos mil dólares de multa.”
O que ocorre com o HSBC não é novo, é uma prática comum, para Safatle: “E não é para estigmatizar o banco, mas para esclarecer o que é o sistema financeiro internacional. São corporações que estão acima dos governos. Não só não se quebra como não se regulamenta um banco como o HSBC, porque ele está tão acima dos governos que o seu diretor à época desses chamados Swiss Leaks era pastor anglicano e hoje é ministro do David Cameron, no governo britânico."
O professor ressalta que se percebe uma relação incestuosa entre o sistema financeiro e a classe política. "É o diretor do banco que vira ministro de um gabinete da Inglaterra, que, com certeza, não vai desenvolver políticas que sejam estranhas ou contra os interesses do sistema financeiro que ele representa muito bem. A imprensa começou a questionar o ministro e ele não dá resposta alguma, porque ele sabe que está numa situação de ser completamente intocado, não há nada que possa acontecer com essas pessoas", lamenta.
Para o filósofo, todo mundo fica completamente exacerbado por problemas como tráfico de drogas, de armas, guerras. "Se não existissem esses bancos, que têm como uma suas finalidades lavar esse dinheiro, com certeza o problema não seria dessa magnitude em hipótese alguma. Só há crime nessa magnitude porque há um sistema financeiro que é completamente conivente, cresceu dentro desse meio.”
Ele destaca que não é só a tráfico de drogas que o HSBC está ligado, mas que há também fraudes de evasão fiscal, no momento em que a economia mundial e os estados estão em crise, tentando segurar o que restou de bem-estar social. “Os países da União Europeia socorreram bancos falidos. Então, quando os bancos cometem crimes, o que se espera é que os responsáveis sejam punidos, presos, mas não é isso o que ocorre”, observa.
Safatle lamenta que a imprensa brasileira não noticie os fatos, ao contrário da europeia. “É inaceitável o tipo de silêncio tácito que está ocorrendo, salvo raríssimas exceções muito pontuais. Na imprensa francesa ou britânica, mesmo nos Estados Unidos, foi dito que vão utilizar esses dados para tentar reaver o dinheiro." Nesses casos, a imprensa apresentou os nomes: "O Le Monde, que mobilizou um pouco tudo isso, chegou a brigar com seus acionistas porque um deles fez uma declaração dizendo que achava um absurdo que o jornal expusesse esses nomes. Ou seja, a imprensa fez o seu papel. No caso brasileiro é inacreditável".
O Brasil é, a princípio, o nono país em número de contas nessa filial genebrina do HSBC. São 8.667 contas, das quais 55% são contas de nacionais, ou seja, são mais de 4 mil pessoas. "A pergunta que eu gostaria de fazer é quem são essas pessoas. O sujeito não abre uma conta em um banco suíço com esse histórico à toa. Quem são as pessoas que fizeram evasão fiscal, fraude fiscal e coisas dessa natureza?”, questiona.
Alguns nomes de brasileiros que possuem contas no HSBC com depósitos sem origem comprovada na agência em Genebra foram conhecidos por intermédio de sites angolanos. “Aí apareceu o nome do rei do ônibus do Rio de Janeiro, o nome da família Steinbruch, que é do grupo Vicunha. Essas pessoas cometeram crimes, quais foram os crimes? É muito estranho que não só a imprensa, mas, ao que parece, a própria Receita Federal adiou a análise de coisas desse tipo."
Para Safatle, isso demonstra um dado muito evidente: "A elite rentista brasileira é completamente blindada, sabe que é e tem uma relação incestuosa entre poder político e estrutura de comunicação, que faz com que em última instância seja um grupo só, de uma forma ou de outra, que sabe que pode fazer o que quiser, porque sabe que não existe nenhuma possibilidade de a Justiça pegar, a não ser existam embates internos, em brigas internas, aí sim vão pegar um ou outro".
O professor da USP se pergunta como ampliar essa discussão oculta na imprensa tradicional. “Os nomes que vazam dessa lista de brasileiros com contas no HSBC em Genebra são de envolvidos na Operação Lava Jato, da Polícia Federal. Quer dizer, os nomes são divulgados dependendo do interesse do meio de comunicação. Só são esses os nomes dos 4 mil correntistas, só são esses dez ou 15 que tiveram problemas? Isso é uma brincadeira.”
A extrema gravidade da história exige que se faça algo. “Se tem algo que destrói a moralidade é a parcialidade, é você começar a perceber que há um uso estratégico do discurso sobre a moralidade, porque é um uso que serve simplesmente para você voltar suas atividades contra seus inimigos. Nesse momento, a moralidade perde completamente seu valor. Eu diria que na política brasileira isso acontece a torto e a direito, é um traço característico da política brasileira."
Safatle lembra: "A moralidade exige a simetria completa dos julgamentos. É julgar todos da mesma forma, independente do que vá acontecer. Isso falta dentro da política brasileira. É por isso que não se consegue fazer com que essas indignações se transformem em saltos qualitativos da política. E aí vira simplesmente um jogo em que se tenta colocar um ou outro contra a parede.”
Safatle identifica que há um processo de desgaste constante do governo pela mídia e, por isso, os nomes envolvidos em negócios ilícitos no HSBC são seletivos. “Se a gente quisesse mesmo fazer uma limpeza geral no que diz respeito ao caso Petrobras, por exemplo, todos denunciantes falaram: 'Olha, desde 1997 eu recebo propina'. Ou seja, tem um dado estrutural, não existe um caso de governo ou de partido, é um caso de estrutura, em que vai todo mundo. E nessa situação o mínimo que se espera é que se mostre claramente a extensão do processo e a necessidade geral de punição. Mas isso nunca ocorre, isso desgasta toda a força da indignação moral”, lamenta. “Todo mundo que conhece um pouco da sociedade brasileira sabe que lá você vai encontrar alguns dos nossos empresários mais conhecidos, alguns dos políticos mais conhecidos.”
Quanto ao silêncio que a Rede Globo dedica ao caso do HSBC, Safatle comenta: "Isso é uma piada, é completamente inacreditável. Eu gostaria que eles explicassem muito claramente qual é a noção deles de notícia, porque é surreal. Você pode pegar as páginas do The Guardian, jornal britânico, ou do francês Le Monde, e a televisão de maior audiência não dá nada? O que é isso? Eles transformam o jornalismo em uma grande brincadeira".
Para a secretária-geral do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, Ivone Maria da Silva, é uma "vergonha" que esse caso só apareça em alguns sites e blogs e seja ignorado pelos grandes meios de comunicação, que não têm interesse em divulgar os nomes de brasileiros que estão nessa lista com depósitos sem origem comprovada no HSBC em Genebra. “Um dos clientes que já apareceu na lista foi o Clarín, da Argentina. Não vamos ficar surpresos se os meios de comunicação aqui do Brasil também aparecerem na lista, ou se os donos desses meios estiverem guardando dinheiro lá fora para não pagar impostos. Talvez por isso essa lista não seja divulgada. Começaram a soltar os nomes seletivamente, e por isso surgem os nomes relacionados com a Lava Jato. Mas tinha que soltar o nome de todo mundo”, diz. Por Rede Brasil Atual
“Os chineses resolveram impedir o comércio de ópio porque a população já estava entrando em um processo de ser dizimada pela droga. Então, o banco foi criado exatamente para financiar o tráfico de drogas, entre outras coisas. E ele cresceu, a partir dos anos 70, comprando bancos dos Estados Unidos e da Europa, muitos dos quais tinham carteiras extremamente problemáticas", diz Safatle. "Foi o caso do banco do finado Edmond Safra, que tinha entre seus clientes traficantes de diamantes e negócios com a máfia russa. O Safra foi assassinado em uma situação, no mínimo, bastante misteriosa. Seu banco iria ser comprado pelo American Express e o negócio foi desfeito por causa de problemas internos."
Esse foi o processo de crescimento do banco, segundo o professor. "Comprou o Bamerindus aqui, um banco que estava com problemas enormes. E não só isso, quer dizer, ele é reincidente, faz anos que o banco tem sido julgado por várias instâncias mundiais, exatamente por esses seus negócios com tráfico, negócios ilícitos. Foi declarado culpado nos Estados Unidos por um caso que envolvia tráfico com colombianos e mexicanos. Só que pagou uma mixaria de um milhão e novecentos mil dólares de multa.”
O que ocorre com o HSBC não é novo, é uma prática comum, para Safatle: “E não é para estigmatizar o banco, mas para esclarecer o que é o sistema financeiro internacional. São corporações que estão acima dos governos. Não só não se quebra como não se regulamenta um banco como o HSBC, porque ele está tão acima dos governos que o seu diretor à época desses chamados Swiss Leaks era pastor anglicano e hoje é ministro do David Cameron, no governo britânico."
O professor ressalta que se percebe uma relação incestuosa entre o sistema financeiro e a classe política. "É o diretor do banco que vira ministro de um gabinete da Inglaterra, que, com certeza, não vai desenvolver políticas que sejam estranhas ou contra os interesses do sistema financeiro que ele representa muito bem. A imprensa começou a questionar o ministro e ele não dá resposta alguma, porque ele sabe que está numa situação de ser completamente intocado, não há nada que possa acontecer com essas pessoas", lamenta.
Para o filósofo, todo mundo fica completamente exacerbado por problemas como tráfico de drogas, de armas, guerras. "Se não existissem esses bancos, que têm como uma suas finalidades lavar esse dinheiro, com certeza o problema não seria dessa magnitude em hipótese alguma. Só há crime nessa magnitude porque há um sistema financeiro que é completamente conivente, cresceu dentro desse meio.”
Ele destaca que não é só a tráfico de drogas que o HSBC está ligado, mas que há também fraudes de evasão fiscal, no momento em que a economia mundial e os estados estão em crise, tentando segurar o que restou de bem-estar social. “Os países da União Europeia socorreram bancos falidos. Então, quando os bancos cometem crimes, o que se espera é que os responsáveis sejam punidos, presos, mas não é isso o que ocorre”, observa.
Safatle lamenta que a imprensa brasileira não noticie os fatos, ao contrário da europeia. “É inaceitável o tipo de silêncio tácito que está ocorrendo, salvo raríssimas exceções muito pontuais. Na imprensa francesa ou britânica, mesmo nos Estados Unidos, foi dito que vão utilizar esses dados para tentar reaver o dinheiro." Nesses casos, a imprensa apresentou os nomes: "O Le Monde, que mobilizou um pouco tudo isso, chegou a brigar com seus acionistas porque um deles fez uma declaração dizendo que achava um absurdo que o jornal expusesse esses nomes. Ou seja, a imprensa fez o seu papel. No caso brasileiro é inacreditável".
O Brasil é, a princípio, o nono país em número de contas nessa filial genebrina do HSBC. São 8.667 contas, das quais 55% são contas de nacionais, ou seja, são mais de 4 mil pessoas. "A pergunta que eu gostaria de fazer é quem são essas pessoas. O sujeito não abre uma conta em um banco suíço com esse histórico à toa. Quem são as pessoas que fizeram evasão fiscal, fraude fiscal e coisas dessa natureza?”, questiona.
Alguns nomes de brasileiros que possuem contas no HSBC com depósitos sem origem comprovada na agência em Genebra foram conhecidos por intermédio de sites angolanos. “Aí apareceu o nome do rei do ônibus do Rio de Janeiro, o nome da família Steinbruch, que é do grupo Vicunha. Essas pessoas cometeram crimes, quais foram os crimes? É muito estranho que não só a imprensa, mas, ao que parece, a própria Receita Federal adiou a análise de coisas desse tipo."
Para Safatle, isso demonstra um dado muito evidente: "A elite rentista brasileira é completamente blindada, sabe que é e tem uma relação incestuosa entre poder político e estrutura de comunicação, que faz com que em última instância seja um grupo só, de uma forma ou de outra, que sabe que pode fazer o que quiser, porque sabe que não existe nenhuma possibilidade de a Justiça pegar, a não ser existam embates internos, em brigas internas, aí sim vão pegar um ou outro".
O professor da USP se pergunta como ampliar essa discussão oculta na imprensa tradicional. “Os nomes que vazam dessa lista de brasileiros com contas no HSBC em Genebra são de envolvidos na Operação Lava Jato, da Polícia Federal. Quer dizer, os nomes são divulgados dependendo do interesse do meio de comunicação. Só são esses os nomes dos 4 mil correntistas, só são esses dez ou 15 que tiveram problemas? Isso é uma brincadeira.”
A extrema gravidade da história exige que se faça algo. “Se tem algo que destrói a moralidade é a parcialidade, é você começar a perceber que há um uso estratégico do discurso sobre a moralidade, porque é um uso que serve simplesmente para você voltar suas atividades contra seus inimigos. Nesse momento, a moralidade perde completamente seu valor. Eu diria que na política brasileira isso acontece a torto e a direito, é um traço característico da política brasileira."
Safatle lembra: "A moralidade exige a simetria completa dos julgamentos. É julgar todos da mesma forma, independente do que vá acontecer. Isso falta dentro da política brasileira. É por isso que não se consegue fazer com que essas indignações se transformem em saltos qualitativos da política. E aí vira simplesmente um jogo em que se tenta colocar um ou outro contra a parede.”
Safatle identifica que há um processo de desgaste constante do governo pela mídia e, por isso, os nomes envolvidos em negócios ilícitos no HSBC são seletivos. “Se a gente quisesse mesmo fazer uma limpeza geral no que diz respeito ao caso Petrobras, por exemplo, todos denunciantes falaram: 'Olha, desde 1997 eu recebo propina'. Ou seja, tem um dado estrutural, não existe um caso de governo ou de partido, é um caso de estrutura, em que vai todo mundo. E nessa situação o mínimo que se espera é que se mostre claramente a extensão do processo e a necessidade geral de punição. Mas isso nunca ocorre, isso desgasta toda a força da indignação moral”, lamenta. “Todo mundo que conhece um pouco da sociedade brasileira sabe que lá você vai encontrar alguns dos nossos empresários mais conhecidos, alguns dos políticos mais conhecidos.”
Quanto ao silêncio que a Rede Globo dedica ao caso do HSBC, Safatle comenta: "Isso é uma piada, é completamente inacreditável. Eu gostaria que eles explicassem muito claramente qual é a noção deles de notícia, porque é surreal. Você pode pegar as páginas do The Guardian, jornal britânico, ou do francês Le Monde, e a televisão de maior audiência não dá nada? O que é isso? Eles transformam o jornalismo em uma grande brincadeira".
Para a secretária-geral do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, Ivone Maria da Silva, é uma "vergonha" que esse caso só apareça em alguns sites e blogs e seja ignorado pelos grandes meios de comunicação, que não têm interesse em divulgar os nomes de brasileiros que estão nessa lista com depósitos sem origem comprovada no HSBC em Genebra. “Um dos clientes que já apareceu na lista foi o Clarín, da Argentina. Não vamos ficar surpresos se os meios de comunicação aqui do Brasil também aparecerem na lista, ou se os donos desses meios estiverem guardando dinheiro lá fora para não pagar impostos. Talvez por isso essa lista não seja divulgada. Começaram a soltar os nomes seletivamente, e por isso surgem os nomes relacionados com a Lava Jato. Mas tinha que soltar o nome de todo mundo”, diz. Por Rede Brasil Atual
Acreditar que a mídia tradicional se abrirá ao contraditório é ilusão
É uma grave falha da democracia exigir que governantes eleitos pelo voto popular sejam obrigados a se dirigir à sociedade por meios privados, controlados por minorias que os querem ver apeados do poder
Na primeira reunião ministerial do segundo mandato, a presidenta Dilma Rousseff convocou seus auxiliares para a “batalha da comunicação”. Foi enfática: “Nós devemos enfrentar o desconhecimento, a desinformação sempre e permanentemente. Vou repetir: sempre e permanentemente”.
Nada mais justo. A desinformação contrária ao governo campeia pelo país, orquestrada pelos grandes meios de comunicação. A reação da presidenta é justificável. Resta saber quais são as armas que ela e seus ministros possuem para essa batalha. Se esperam contar com a benevolência dos meios tradicionais, podem tirar o cavalo da chuva. A batalha estará perdida antes de ser travada.
Alguns veículos até publicam o que chamam de “outro lado”, mas sempre de forma discreta e submissa à pauta criada para fustigar o governo. A desproporção entre o ataque da mídia e a possibilidade de resposta através dela mesma é brutal. Constata-se uma grave falha da democracia ao exigir que governantes eleitos pelo voto popular sejam obrigados a se dirigir à sociedade por meios privados, controlados por minorias que os querem ver apeados do poder.
Além disso a participação do governo na batalha da comunicação não pode ser apenas reativa aos ataques da oposição midiática. É preciso tomar a iniciativa e buscar canais despoluídos para que as mensagens cheguem ao público sem ruídos.
Para ampliar a liberdade de expressão uma lei de meios é fundamental, embora não seja o único caminho. Outro, de construção mais rápida, é o da comunicação pública, indispensável para o jogo democrático. Dela, já há o embrião constituído pela Empresa Brasil de Comunicação (EBC), com suas duas emissoras de televisão, oito de rádio, duas agências de notícias e um portal na internet. Resta tirá-la da irrelevância. Não para se tornar porta-voz do governo mas para fazer jornalismo de qualidade, livre de ingerências partidárias e comerciais.
A primeira medida é dar a esses veículos abrangência nacional, atendendo a um dos princípios básicos da comunicação pública que é o do acesso universal. Toda pessoa tem o direito, em qualquer parte do país, de receber os sinais desses meios de forma rápida e fácil. A TV Brasil, por exemplo, deve ser sintonizada em qualquer lugar da mesma forma com que hoje sintonizamos a Globo ou a Record.
Com a digitalização e a consequente multiplicidade de canais, torna-se possível segmentá-los constituindo um conjunto formado pelo canal generalista já existente, ao lado do infantil e do noticioso. Seria o núcleo básico ao qual poderiam ser agregados canais de filmes, de música, de arte e esportes.
Quanto ao rádio, cabe lembrar que ele continua sendo a segunda fonte mais utilizada para a informação e o entretenimento no Brasil. Ao controlar um leque de emissoras que vai da histórica Rádio Nacional do Rio de Janeiro à estratégica Rádio Nacional do Alto Solimões, o serviço de rádio da EBC tem potencial para se tornar uma alternativa importante em relação ao que hoje é oferecido ao público.
Necessidade imediata nesse sentido é a constituição de emissora noticiosa 24 horas no ar, capaz de produzir uma narrativa distinta das produzidas pelas rádios comerciais que tornam homogênea a informação radiofônica em circulação pelo país.
No caso da internet, a Agência Brasil já exerce um papel importante voltado para o público leitor e para o municiamento informativo de um número expressivo de veículos em todo o território nacional. Cabe popularizar e ampliar esse serviço tendo como uma das janelas o portal da EBC, dando a ele formas de acessibilidade e fidelização semelhantes às obtidas pelos portais informativos vinculados à mídia comercial.
Com a existência de canais públicos fortes, abertos aos interesses mais gerais da sociedade, a batalha da comunicação seria travada em termos um pouco mais equilibrados, dando ao público o direito de uma escolha
Por Rede Brasil Atual
Na primeira reunião ministerial do segundo mandato, a presidenta Dilma Rousseff convocou seus auxiliares para a “batalha da comunicação”. Foi enfática: “Nós devemos enfrentar o desconhecimento, a desinformação sempre e permanentemente. Vou repetir: sempre e permanentemente”.
Nada mais justo. A desinformação contrária ao governo campeia pelo país, orquestrada pelos grandes meios de comunicação. A reação da presidenta é justificável. Resta saber quais são as armas que ela e seus ministros possuem para essa batalha. Se esperam contar com a benevolência dos meios tradicionais, podem tirar o cavalo da chuva. A batalha estará perdida antes de ser travada.
Alguns veículos até publicam o que chamam de “outro lado”, mas sempre de forma discreta e submissa à pauta criada para fustigar o governo. A desproporção entre o ataque da mídia e a possibilidade de resposta através dela mesma é brutal. Constata-se uma grave falha da democracia ao exigir que governantes eleitos pelo voto popular sejam obrigados a se dirigir à sociedade por meios privados, controlados por minorias que os querem ver apeados do poder.
Além disso a participação do governo na batalha da comunicação não pode ser apenas reativa aos ataques da oposição midiática. É preciso tomar a iniciativa e buscar canais despoluídos para que as mensagens cheguem ao público sem ruídos.
Para ampliar a liberdade de expressão uma lei de meios é fundamental, embora não seja o único caminho. Outro, de construção mais rápida, é o da comunicação pública, indispensável para o jogo democrático. Dela, já há o embrião constituído pela Empresa Brasil de Comunicação (EBC), com suas duas emissoras de televisão, oito de rádio, duas agências de notícias e um portal na internet. Resta tirá-la da irrelevância. Não para se tornar porta-voz do governo mas para fazer jornalismo de qualidade, livre de ingerências partidárias e comerciais.
A primeira medida é dar a esses veículos abrangência nacional, atendendo a um dos princípios básicos da comunicação pública que é o do acesso universal. Toda pessoa tem o direito, em qualquer parte do país, de receber os sinais desses meios de forma rápida e fácil. A TV Brasil, por exemplo, deve ser sintonizada em qualquer lugar da mesma forma com que hoje sintonizamos a Globo ou a Record.
Com a digitalização e a consequente multiplicidade de canais, torna-se possível segmentá-los constituindo um conjunto formado pelo canal generalista já existente, ao lado do infantil e do noticioso. Seria o núcleo básico ao qual poderiam ser agregados canais de filmes, de música, de arte e esportes.
Quanto ao rádio, cabe lembrar que ele continua sendo a segunda fonte mais utilizada para a informação e o entretenimento no Brasil. Ao controlar um leque de emissoras que vai da histórica Rádio Nacional do Rio de Janeiro à estratégica Rádio Nacional do Alto Solimões, o serviço de rádio da EBC tem potencial para se tornar uma alternativa importante em relação ao que hoje é oferecido ao público.
Necessidade imediata nesse sentido é a constituição de emissora noticiosa 24 horas no ar, capaz de produzir uma narrativa distinta das produzidas pelas rádios comerciais que tornam homogênea a informação radiofônica em circulação pelo país.
No caso da internet, a Agência Brasil já exerce um papel importante voltado para o público leitor e para o municiamento informativo de um número expressivo de veículos em todo o território nacional. Cabe popularizar e ampliar esse serviço tendo como uma das janelas o portal da EBC, dando a ele formas de acessibilidade e fidelização semelhantes às obtidas pelos portais informativos vinculados à mídia comercial.
Com a existência de canais públicos fortes, abertos aos interesses mais gerais da sociedade, a batalha da comunicação seria travada em termos um pouco mais equilibrados, dando ao público o direito de uma escolha
Por Rede Brasil Atual
segunda-feira, 23 de março de 2015
A liberdade na internet está ameaçada
Por Manuel Castells, no site Outras Palavras:
Noventa e sete por cento da informação do planeta está digitalizada. E a maior parte dessa informação nós é que produzimos, por meio da internet e redes de comunicação sem fio. Ao nos comunicar, transformamos boa parte de nossas vidas em registro digital. E portanto comunicável e acessível via interconexão de arquivos de redes. Com uma identificação individual que se conecta com nossos cartões de crédito, nosso cartão de saúde, nossa conta bancária, nosso histórico pessoal e profissional (incluindo domicílio), nossos computadores (cada um com seu número de código), nosso correio eletrônico (requerido por bancos e empresas de internet), nossa carteira de motorista, o número do registro do carro, as viagens que fazemos, nossos hábitos de consumo (detectados pelas compras com cartão ou pela internet), nossos hábitos de música e leitura, nossa presença nas redes sociais (tais como Facebook, Instagram, YouTube, Flickr ou Twitter e tantos outros), nossas buscas no Google ou Yahoo e um amplo etcetera digital. E tudo isso referido a uma pessoa: você, por exemplo. Supõe-se sem dúvida que as identidades individuais estejam legalmente protegidas e que os dados de cada um sejam privados. Até que deixem de ser. E essas exceções, que na verdade são a regra, referem-se ao relacionamento com as duas instituições centrais em nossa sociedade: o Estado e o Capital.
Nesse mundo digitalizado e conectado, o Estado nos vigia e o Capital nos vende, ou seja, vende nossa vida transformada em dados. Vigiam-nos pelo nosso bem, para proteger-nos do mal. E nos vendem com nossa própria concordância, quando aceitamos cookies e confiamos nos bancos que nos permitem viver de crédito (e, portanto, julgam-se no direito de saber a quem fornecem cartão). Os dois processos, a vigilância eletrônica maciça e a venda de dados pessoais como modelo de negócio, ampliaram-se exponencialmente na última década, pelo efeito da paranoia da segurança, a busca de formas para tornar a internet rentável e o desenvolvimento tecnológico da comunicação digital e do tratamento de dados.
As revelações de Edward Snowden sobre as práticas de espionagem permanente, no mundo inteiro (com escassa proteção judicial ou simplesmente ilegais) expuseram uma sociedade em que nada pode escapar à vigilância do Grande Irmão, nem Angela Merkel. Não foi sempre assim, porque não estávamos digitalizados e não existiam tecnologias suficientemente potentes para obter, relacionar e processar essa imensa massa de informação. A emergência do chamado big data, gigantescas bases de dados em formatos comunicáveis e acessíveis (como o imenso arquivo da Agência Nacional de Segurança dos EUA — NSA — em Bluffdale, Utah) resultou no reforço dos serviços de inteligência depois do bárbaro ataque a Nova York, assim como da cooperação entre grandes empresas tecnológicas e governos, em particular com a NSA (que é parte do Ministério de Defesa dos EUA, mas goza de ampla autonomia).
O diretor da NSA, Michael Hayden, declarou que, para identificar uma agulha num palheiro (o terrorista na comunicação mundial) é necessário controlar todo o palheiro — e é isso que acabou conseguindo, segundo seus critérios, com uma cobertura legal flexível. Ainda que os Estados Unidos sejam o centro do sistema de vigilância, os documentos de Snowden mostram a cooperação ativa com as agências especializadas de vigilância do Reino Unido, da Alemanha, da França e de qualquer país, com exceção parcial da Rússia e da China, salvo em momentos de convergência. Na Espanha, depois da escandalosa revelação de que a NSA havia interceptado 600 milhões de chamadas telefônicas, Snowden apontou que na realidade a CNI havia feito isso por conta da NSA. Seguia a política do ex-primeiro-ministro José Maria Aznar, que deu ao presidente norte-americano George W. Bush permissão ilimitada para espionar na Espanha em troca de material avançado de vigilância. E vigiaram qualquer pessoa que estivesse compartilhando informação.
Mas foram as empresas tecnológicas que desenvolveram as tecnologias de ponta para o Pentágono. E foram empresas telefônicas e de internet que entregaram os dados de seus clientes. Só se zangaram quando souberam que a NSA as espionava sem sua permissão. Facebook, Google e Apple protestaram e encriptaram parte de suas comunicações internas. Porque na realidade essa é uma possível defesa da privacidade: facilitar comunicação encriptada aos usuários. Sem dúvida, não é difundida porque contradiz o modelo de negócio das empresas de internet: a coleta e venda de dados para publicidade focalizada (que constituem 91% dos ganhos do Google).
Ainda que a vigilância sem controle do Estado seja uma ameaça à democracia, a erosão da privacidade provém essencialmente da prática das empresas de comunicação de obter dados de seus clientes, agregá-los e vendê-los. Vendem seus usuários — nós mesmos — em forma de dados. Sem problema legal. Leia a política de privacidade publicada pelo Google: o buscador outorga-se o direito de registrar o nome do usuário, o correio eletrônico, número de telefone, cartão de crédito, hábitos de busca, pedidos de busca, identificação de computadores e telefones, duração de chamadas, localização, usos e dados das aplicações. Fora isso, respeita-se a privacidade. Por isso o Google dispõe de quase um milhão de servidores para processamento de dados.
Como evitar ser vigiado ou vendido? Os criptoanarquistas confiam na tecnologia. Vã esperança, para as pessoas normais. Os advogados, na justiça. Batalha árdua e lenta. Os políticos ficam encantados por saber tudo, com exceção dos seus dados. E o indivíduo? Talvez mudar por si mesmo: não utilize cartões de crédito, comunique-se em cibercafés, ligue de telefones públicos, vá ao cinema e a shows ao invés de baixar filmes ou música. E se isso for muito pesado, venda seus dados ao invés de doá-los — como propõem pequenas empresas que agora proliferam no Vale do Silício…
* Tradução de Inês Castilho.
Por Altamiro Borges
Noventa e sete por cento da informação do planeta está digitalizada. E a maior parte dessa informação nós é que produzimos, por meio da internet e redes de comunicação sem fio. Ao nos comunicar, transformamos boa parte de nossas vidas em registro digital. E portanto comunicável e acessível via interconexão de arquivos de redes. Com uma identificação individual que se conecta com nossos cartões de crédito, nosso cartão de saúde, nossa conta bancária, nosso histórico pessoal e profissional (incluindo domicílio), nossos computadores (cada um com seu número de código), nosso correio eletrônico (requerido por bancos e empresas de internet), nossa carteira de motorista, o número do registro do carro, as viagens que fazemos, nossos hábitos de consumo (detectados pelas compras com cartão ou pela internet), nossos hábitos de música e leitura, nossa presença nas redes sociais (tais como Facebook, Instagram, YouTube, Flickr ou Twitter e tantos outros), nossas buscas no Google ou Yahoo e um amplo etcetera digital. E tudo isso referido a uma pessoa: você, por exemplo. Supõe-se sem dúvida que as identidades individuais estejam legalmente protegidas e que os dados de cada um sejam privados. Até que deixem de ser. E essas exceções, que na verdade são a regra, referem-se ao relacionamento com as duas instituições centrais em nossa sociedade: o Estado e o Capital.
Nesse mundo digitalizado e conectado, o Estado nos vigia e o Capital nos vende, ou seja, vende nossa vida transformada em dados. Vigiam-nos pelo nosso bem, para proteger-nos do mal. E nos vendem com nossa própria concordância, quando aceitamos cookies e confiamos nos bancos que nos permitem viver de crédito (e, portanto, julgam-se no direito de saber a quem fornecem cartão). Os dois processos, a vigilância eletrônica maciça e a venda de dados pessoais como modelo de negócio, ampliaram-se exponencialmente na última década, pelo efeito da paranoia da segurança, a busca de formas para tornar a internet rentável e o desenvolvimento tecnológico da comunicação digital e do tratamento de dados.
As revelações de Edward Snowden sobre as práticas de espionagem permanente, no mundo inteiro (com escassa proteção judicial ou simplesmente ilegais) expuseram uma sociedade em que nada pode escapar à vigilância do Grande Irmão, nem Angela Merkel. Não foi sempre assim, porque não estávamos digitalizados e não existiam tecnologias suficientemente potentes para obter, relacionar e processar essa imensa massa de informação. A emergência do chamado big data, gigantescas bases de dados em formatos comunicáveis e acessíveis (como o imenso arquivo da Agência Nacional de Segurança dos EUA — NSA — em Bluffdale, Utah) resultou no reforço dos serviços de inteligência depois do bárbaro ataque a Nova York, assim como da cooperação entre grandes empresas tecnológicas e governos, em particular com a NSA (que é parte do Ministério de Defesa dos EUA, mas goza de ampla autonomia).
O diretor da NSA, Michael Hayden, declarou que, para identificar uma agulha num palheiro (o terrorista na comunicação mundial) é necessário controlar todo o palheiro — e é isso que acabou conseguindo, segundo seus critérios, com uma cobertura legal flexível. Ainda que os Estados Unidos sejam o centro do sistema de vigilância, os documentos de Snowden mostram a cooperação ativa com as agências especializadas de vigilância do Reino Unido, da Alemanha, da França e de qualquer país, com exceção parcial da Rússia e da China, salvo em momentos de convergência. Na Espanha, depois da escandalosa revelação de que a NSA havia interceptado 600 milhões de chamadas telefônicas, Snowden apontou que na realidade a CNI havia feito isso por conta da NSA. Seguia a política do ex-primeiro-ministro José Maria Aznar, que deu ao presidente norte-americano George W. Bush permissão ilimitada para espionar na Espanha em troca de material avançado de vigilância. E vigiaram qualquer pessoa que estivesse compartilhando informação.
Mas foram as empresas tecnológicas que desenvolveram as tecnologias de ponta para o Pentágono. E foram empresas telefônicas e de internet que entregaram os dados de seus clientes. Só se zangaram quando souberam que a NSA as espionava sem sua permissão. Facebook, Google e Apple protestaram e encriptaram parte de suas comunicações internas. Porque na realidade essa é uma possível defesa da privacidade: facilitar comunicação encriptada aos usuários. Sem dúvida, não é difundida porque contradiz o modelo de negócio das empresas de internet: a coleta e venda de dados para publicidade focalizada (que constituem 91% dos ganhos do Google).
Ainda que a vigilância sem controle do Estado seja uma ameaça à democracia, a erosão da privacidade provém essencialmente da prática das empresas de comunicação de obter dados de seus clientes, agregá-los e vendê-los. Vendem seus usuários — nós mesmos — em forma de dados. Sem problema legal. Leia a política de privacidade publicada pelo Google: o buscador outorga-se o direito de registrar o nome do usuário, o correio eletrônico, número de telefone, cartão de crédito, hábitos de busca, pedidos de busca, identificação de computadores e telefones, duração de chamadas, localização, usos e dados das aplicações. Fora isso, respeita-se a privacidade. Por isso o Google dispõe de quase um milhão de servidores para processamento de dados.
Como evitar ser vigiado ou vendido? Os criptoanarquistas confiam na tecnologia. Vã esperança, para as pessoas normais. Os advogados, na justiça. Batalha árdua e lenta. Os políticos ficam encantados por saber tudo, com exceção dos seus dados. E o indivíduo? Talvez mudar por si mesmo: não utilize cartões de crédito, comunique-se em cibercafés, ligue de telefones públicos, vá ao cinema e a shows ao invés de baixar filmes ou música. E se isso for muito pesado, venda seus dados ao invés de doá-los — como propõem pequenas empresas que agora proliferam no Vale do Silício…
* Tradução de Inês Castilho.
Por Altamiro Borges
sábado, 21 de março de 2015
Intervozes lança campanha para custear documentário
Escrito por: Redação
Fonte: Intervozes/Catarse.me
Campanha ficará no ar até o dia 15 de maio. Objetivo é arrecadar R$ 50 mil. Doações podem ser pagas com cartão de crédito ou boleto bancário
O Coletivo Intervozes lançou, nesta segunda-feira (16/3), campanha para financiar a produção de um documentário sobre regulação da comunicação. O objetivo é explicar para o maior número de pessoas que a regulação da comunicação nada tem a ver com censura, mas sim com a ampliação de vozes a se expressar e a promoção da diversidade e da pluralidade de ideias em circulação.
“A gente quer fazer um curta sobre a regulação existente em todo o mundo. Inglaterra regulamenta, França regulamenta, o Japão regulamenta. A gente tem que buscar essa diversidade, mostrar que o mundo todo faz isso e que a gente também precisa fazer", explica Pedro Ekman, membro da Coordenação Executiva da entidade, no vídeo de divulgação.
A campanha está na plataforma Catarse.me (www.catarse.me). São seis faixas de doação: R$ 20 ou mais, R$ 40 ou mais, R$ 80 ou mais, R$ 120 ou mais, R$ 250 ou mais e R$ 2 mil ou mais. Todas oferecem recompensa de acordo com o valor doado. O objetivo é atingir R$ 50 mil. A campanha ficará no ar por R$ 60 dias (15/3 a 15/5). As doações podem ser pagas com boleto bancário ou cartão de crédito.
>> Clique aqui para conhecer a campanha e fazer a doação
quinta-feira, 19 de março de 2015
"EUA estão agindo para desestabilizar a América Latina", diz historiador
Cientista político e historiador Moniz Bandeira denuncia modus operandi dos EUA para desestabilizar as democracias na América Latina. No caso do Brasil, iniciativas como a criação dos Brics e a escolha do regime de partilha para a exploração do pré-sal despertaram a ira de Washington
moniz bandeira eua américa latina
O cientista político e historiador Luiz Alberto de Vianna Moniz Bandeira (divulgação)
O cientista político e historiador Luiz Alberto de Vianna Moniz Bandeira denunciou nesta terça-feira (17) que os Estados Unidos, por meio de órgãos como CIA, NSA (Agência Nacional de Segurança) e ONG´s a eles vinculadas, continuam na tentativa de desestabilizar governos de esquerda e progressistas da América Latina. Moniz Bandeira disse que “evidentemente há atores, profissionais muito bem pagos, que atuam tanto na Venezuela, Argentina e Brasil, integrantes ou não de ONGs, a serviço da USAID, Now Endowment for Democracy (NED) e outras entidades americanas, para desestabilizar esses países, com a utilização de instrumentos que incluem protestos de rua”.
“As demonstrações de 2013 e as últimas, contra a eleição da presidente Dilma Rousseff, não foram evidentemente espontâneas”, disse o cientista político. “Os atores, com o suporte externo, fomentam e encorajam a aguda luta de classe no Brasil, intensificada desde que um líder sindical, Lula, foi eleito presidente da República. Os jornais aqui na Alemanha salientaram que a maior parte dos que participaram das manifestações de domingo, dia 15, era gente da classe média alta para cima, dos endinheirados”, disse Moniz Bandeira, que reside na Alemanha e é autor de vários livros sobre as relações Brasil—EUA.
No caso do Brasil especificamente, citou iniciativas do PT e aliados que contrariam Washington, como a criação do Banco do Brics , uma alternativa ao FMI e ao Banco Mundial e o regime de partilha para o pré-sal, que conferiu papel estratégico à Petrobras, deslocando as petroleiras estrangeiras. Ele lembrou também que a presidenta Dilma foi espionada pela NSA e não se alinhou com os Estados Unidos em outras questões de política internacional, entre as quais a dos países da América Latina..
Confira a entrevista na íntegra:
1)O líder do PT na Câmara, Sibá Machado, comentou nas redes sociais que a CIA tem atuado nas tentativas de desestabilização de governos democráticos na América Latina . Como o senhor avalia isso, diante de vários episódios históricos que mostram os EUA por trás da desestabilização de governos de esquerda e progressistas?
R – Washington há muito tempo está a criar ONGs com o fito de promover demonstrações empreendidas, com recursos canalizados através da USAID, National Endowment for Democracy (NED) e CIA; Open Society Foundations (OSF), do bilionário George Soros, Freedom House, International Republican Institute (IRI), sob a direção do senador John McCain, etc. Elas trabalham diretamente com o setor privado, municípios e cidadãos, como estudantes, recrutados para fazerem cursos nos Estados Unidos. Assim o fizeram nos países da Eurásia, onde de 1989 ao ano de 2000 foram criadas mais de 500.000, a maioria das quais na Ucrânia. Outras foram organizadas no Oriente Médio para fazer a Primavera Árabe.
A estratégia é aproveitar as contradições domésticas do país, os problemas internos, a fim de agravá-los, gerar turbulência e caos até derrubar o governo sem recorrer a golpes militares. Na Ucrânia, dentro do projeto TechCamp, instrutores, a serviço da Embaixada dos Estados Unidos, então chefiada pelo embaixador Geoffrey R. Pyatt, estavam a preparar, desde pelo menos 2012, especialistas, profissionais em guerra de informação e descrédito das instituições do Estado, a usar o potencial revolucionário da mídia moderna – subvencionando a imprensa escrita e falada, TVs e sites na Internet – para a manipulação da opinião pública, e organização de protestos, com o objetivo de subverter a ordem estabelecida no país e derrubar o presidente Viktor Yanukovych as demonstrações contra o presidente Yanukovych, em fevereiro de 2014.
Essa estratégia baseia-se nas doutrinas do professor Gene Sharp e de Political defiance, i. e., o desafio político, termo usado pelo coronel Robert Helvey, especialista da Joint Military Attache School (JMAS), operada pela Defence Intelligence Agency (DIA), para descrever como derrubar um governo e conquistar o controle das instituições, mediante o planejamento das operações e mobilização popular no ataque às fontes de poder nos países hostis aos interesses e valores do Ocidente (Estados Unidos). Essa estratégia pautou em larga medida a política de regime change, a subversão em outros países, sem golpe militar, incrementada pelo presidente George W. Bush, desde as chamadas “revoluções coloridas” na Europa e Eurásia, assim como na África do Norte e no Oriente Médio. Explico, em detalhes e com provas, como essa estratégia se desenvolve em meu livro A Segunda Guerra Fria, e, no momento estou a pesquisar e escrever outra obra – A desordem mundial – onde aprofundo o estudo o que ocorreu e ocorre em vários países, sobretudo na Ucrânia.
2)Além da CIA, como os EUA atuam contra os governos de esquerda da América Latina.
R – Não se trata de uma questão ideológica, mas de governos que não se submetem às diretrizes de Washington. Uma potência mundial, como os Estados Unidos, é mais perigosa quando está a perder a hegemonia do que quando expandia seu Império. E o monopólio que adquiriu após a II Guerra Mundial de produzir a moeda internacional de reserva – o dólar – está a ser desafiado pela China, Rússia e também o Brasil, que está associado a esses países na criação do banco internacional de desenvolvimento, como alternativa para o FMI, Banco Mundial etc. Ademais, a presidenta Dilma Rousseff denunciou na ONU a espionagem da NSA, não comprou os aviões – caça dos Estados Unidos, mas da Suécia, não entregou o pré-sal às petrolíferas americanas e não se alinhou com os Estados Unidos em outras questões de política internacional, entre as quais a dos países da América Latina.
3) O governo da Venezuela tem denunciado a participação de Washington em tentativas de golpe. O mesmo poderia estar acontecendo em relação ao Brasil?
R – Evidentemente há atores, profissionais muito bem pagos, que atuam tanto na Venezuela, Argentina e Brasil, integrantes ou não de ONGs, a serviço da USAID, Now Endowment for Democracy (NED) e outras entidades americanas. Não sem razão o presidente Vladimir Putin determinou que todas as ONGs fossem registradas e indicassem a origem de seus recursos e como são gastos. O Brasil devia fazer algo semelhante. As demonstrações de 2013 e as últimas, contra a eleição da presidente Dilma Russeff, não foram evidentemente espontâneas. Os atores, com o suporte externo, fomentam e encorajam a aguda luta de classe no Brasil, intensificada desde que um líder sindical, Lula, foi eleito presidente da República. Os jornais aqui na Alemanha salientaram que a maior parte dos que participaram nas manifestações de domingo, dia 15, era gente da classe média alta para cima, dos endinheirados.
4) Que interesses de Washington seriam contrariados, pelo governo do PT, para justificar a participação da CIA e de grupos empresariais de direita, como os irmãos Koch (ramo petroleiro) , no financiamento de mobilizações contra Dilma? O pré-sal, por exemplo?
R – Os interesses são vários como expliquei acima. É muito estranho como começou a Operação Lava-Jato, partir de uma denúncia “premiada”, com ampla participação da imprensa, sem que documentos comprobatórios aparecessem. O grande presidente Getúlio Vargas já havia denunciado, na sua carta-testamento, que “a campanha subterrânea dos grupos internacionais aliou-se à dos grupos nacionais revoltados contra o regime de garantia do trabalho. (…) Contra a justiça da revisão do salário mínimo se desencadearam os ódios. Quis criar liberdade nacional na potencialização das nossas riquezas através da Petrobras e, mal começa esta a funcionar, a onda de agitação se avoluma. A Eletrobrás foi obstaculizada até o desespero. Não querem que o trabalhador seja livre. Não querem que o povo seja independente”.
5) Como o senhor interpreta o surgimento de grupos de direita no Brasil, com agenda totalmente alinhada aos interesses dos EUA?
R – Grupos de direita estão no Brasil como em outros países. E despertaram com a crise econômica deflagrada em 2007-2008 e que até hoje permanece, em vários países, como o Brasil, onde irrompeu com mais atraso que na Europa. E a direita sempre foi fomentada pelos interesses de Wall Street e do complexo industrial nos EUA, que é ceivado pela corrupção, e onde a porta giratória – executivos de empresas/secretários do governo – nunca deixa de funcionar, em todas as administrações.
6) Há, entre os organizadores dos protestos, gente fracamente favorável à privatização da Petrobras e das riquezas nacionais, com um evidente complexo de vira-latas diante dos interesses estrangeiros. Como analisar esse movimento à luz da história brasileira?De novo o nacionalismo versus entreguismo?
R – Está claro que, por trás da Operação Lava-Jato, o objetivo é desmoralizar a Petrobras e as empresas estatais, de modo a criar as condições para privatizá-las. Porém, estou certo de que as Forças Armadas não permitirão, não intervirão no processo político nem há fundamentos para golpe de Estado, mediante impeachment da presidenta Dilma Rousseff, contra a qual não há qualquer prova de corrupção, fraude eleitoral etc., elemento sempre usado na liturgia subversiva das entidades e líderes políticos que a USAID, NED e outras entidades dos EUA patrocinam.
moniz bandeira eua américa latina
O cientista político e historiador Luiz Alberto de Vianna Moniz Bandeira (divulgação)
O cientista político e historiador Luiz Alberto de Vianna Moniz Bandeira denunciou nesta terça-feira (17) que os Estados Unidos, por meio de órgãos como CIA, NSA (Agência Nacional de Segurança) e ONG´s a eles vinculadas, continuam na tentativa de desestabilizar governos de esquerda e progressistas da América Latina. Moniz Bandeira disse que “evidentemente há atores, profissionais muito bem pagos, que atuam tanto na Venezuela, Argentina e Brasil, integrantes ou não de ONGs, a serviço da USAID, Now Endowment for Democracy (NED) e outras entidades americanas, para desestabilizar esses países, com a utilização de instrumentos que incluem protestos de rua”.
“As demonstrações de 2013 e as últimas, contra a eleição da presidente Dilma Rousseff, não foram evidentemente espontâneas”, disse o cientista político. “Os atores, com o suporte externo, fomentam e encorajam a aguda luta de classe no Brasil, intensificada desde que um líder sindical, Lula, foi eleito presidente da República. Os jornais aqui na Alemanha salientaram que a maior parte dos que participaram das manifestações de domingo, dia 15, era gente da classe média alta para cima, dos endinheirados”, disse Moniz Bandeira, que reside na Alemanha e é autor de vários livros sobre as relações Brasil—EUA.
No caso do Brasil especificamente, citou iniciativas do PT e aliados que contrariam Washington, como a criação do Banco do Brics , uma alternativa ao FMI e ao Banco Mundial e o regime de partilha para o pré-sal, que conferiu papel estratégico à Petrobras, deslocando as petroleiras estrangeiras. Ele lembrou também que a presidenta Dilma foi espionada pela NSA e não se alinhou com os Estados Unidos em outras questões de política internacional, entre as quais a dos países da América Latina..
Confira a entrevista na íntegra:
1)O líder do PT na Câmara, Sibá Machado, comentou nas redes sociais que a CIA tem atuado nas tentativas de desestabilização de governos democráticos na América Latina . Como o senhor avalia isso, diante de vários episódios históricos que mostram os EUA por trás da desestabilização de governos de esquerda e progressistas?
R – Washington há muito tempo está a criar ONGs com o fito de promover demonstrações empreendidas, com recursos canalizados através da USAID, National Endowment for Democracy (NED) e CIA; Open Society Foundations (OSF), do bilionário George Soros, Freedom House, International Republican Institute (IRI), sob a direção do senador John McCain, etc. Elas trabalham diretamente com o setor privado, municípios e cidadãos, como estudantes, recrutados para fazerem cursos nos Estados Unidos. Assim o fizeram nos países da Eurásia, onde de 1989 ao ano de 2000 foram criadas mais de 500.000, a maioria das quais na Ucrânia. Outras foram organizadas no Oriente Médio para fazer a Primavera Árabe.
A estratégia é aproveitar as contradições domésticas do país, os problemas internos, a fim de agravá-los, gerar turbulência e caos até derrubar o governo sem recorrer a golpes militares. Na Ucrânia, dentro do projeto TechCamp, instrutores, a serviço da Embaixada dos Estados Unidos, então chefiada pelo embaixador Geoffrey R. Pyatt, estavam a preparar, desde pelo menos 2012, especialistas, profissionais em guerra de informação e descrédito das instituições do Estado, a usar o potencial revolucionário da mídia moderna – subvencionando a imprensa escrita e falada, TVs e sites na Internet – para a manipulação da opinião pública, e organização de protestos, com o objetivo de subverter a ordem estabelecida no país e derrubar o presidente Viktor Yanukovych as demonstrações contra o presidente Yanukovych, em fevereiro de 2014.
Essa estratégia baseia-se nas doutrinas do professor Gene Sharp e de Political defiance, i. e., o desafio político, termo usado pelo coronel Robert Helvey, especialista da Joint Military Attache School (JMAS), operada pela Defence Intelligence Agency (DIA), para descrever como derrubar um governo e conquistar o controle das instituições, mediante o planejamento das operações e mobilização popular no ataque às fontes de poder nos países hostis aos interesses e valores do Ocidente (Estados Unidos). Essa estratégia pautou em larga medida a política de regime change, a subversão em outros países, sem golpe militar, incrementada pelo presidente George W. Bush, desde as chamadas “revoluções coloridas” na Europa e Eurásia, assim como na África do Norte e no Oriente Médio. Explico, em detalhes e com provas, como essa estratégia se desenvolve em meu livro A Segunda Guerra Fria, e, no momento estou a pesquisar e escrever outra obra – A desordem mundial – onde aprofundo o estudo o que ocorreu e ocorre em vários países, sobretudo na Ucrânia.
2)Além da CIA, como os EUA atuam contra os governos de esquerda da América Latina.
R – Não se trata de uma questão ideológica, mas de governos que não se submetem às diretrizes de Washington. Uma potência mundial, como os Estados Unidos, é mais perigosa quando está a perder a hegemonia do que quando expandia seu Império. E o monopólio que adquiriu após a II Guerra Mundial de produzir a moeda internacional de reserva – o dólar – está a ser desafiado pela China, Rússia e também o Brasil, que está associado a esses países na criação do banco internacional de desenvolvimento, como alternativa para o FMI, Banco Mundial etc. Ademais, a presidenta Dilma Rousseff denunciou na ONU a espionagem da NSA, não comprou os aviões – caça dos Estados Unidos, mas da Suécia, não entregou o pré-sal às petrolíferas americanas e não se alinhou com os Estados Unidos em outras questões de política internacional, entre as quais a dos países da América Latina.
3) O governo da Venezuela tem denunciado a participação de Washington em tentativas de golpe. O mesmo poderia estar acontecendo em relação ao Brasil?
R – Evidentemente há atores, profissionais muito bem pagos, que atuam tanto na Venezuela, Argentina e Brasil, integrantes ou não de ONGs, a serviço da USAID, Now Endowment for Democracy (NED) e outras entidades americanas. Não sem razão o presidente Vladimir Putin determinou que todas as ONGs fossem registradas e indicassem a origem de seus recursos e como são gastos. O Brasil devia fazer algo semelhante. As demonstrações de 2013 e as últimas, contra a eleição da presidente Dilma Russeff, não foram evidentemente espontâneas. Os atores, com o suporte externo, fomentam e encorajam a aguda luta de classe no Brasil, intensificada desde que um líder sindical, Lula, foi eleito presidente da República. Os jornais aqui na Alemanha salientaram que a maior parte dos que participaram nas manifestações de domingo, dia 15, era gente da classe média alta para cima, dos endinheirados.
4) Que interesses de Washington seriam contrariados, pelo governo do PT, para justificar a participação da CIA e de grupos empresariais de direita, como os irmãos Koch (ramo petroleiro) , no financiamento de mobilizações contra Dilma? O pré-sal, por exemplo?
R – Os interesses são vários como expliquei acima. É muito estranho como começou a Operação Lava-Jato, partir de uma denúncia “premiada”, com ampla participação da imprensa, sem que documentos comprobatórios aparecessem. O grande presidente Getúlio Vargas já havia denunciado, na sua carta-testamento, que “a campanha subterrânea dos grupos internacionais aliou-se à dos grupos nacionais revoltados contra o regime de garantia do trabalho. (…) Contra a justiça da revisão do salário mínimo se desencadearam os ódios. Quis criar liberdade nacional na potencialização das nossas riquezas através da Petrobras e, mal começa esta a funcionar, a onda de agitação se avoluma. A Eletrobrás foi obstaculizada até o desespero. Não querem que o trabalhador seja livre. Não querem que o povo seja independente”.
5) Como o senhor interpreta o surgimento de grupos de direita no Brasil, com agenda totalmente alinhada aos interesses dos EUA?
R – Grupos de direita estão no Brasil como em outros países. E despertaram com a crise econômica deflagrada em 2007-2008 e que até hoje permanece, em vários países, como o Brasil, onde irrompeu com mais atraso que na Europa. E a direita sempre foi fomentada pelos interesses de Wall Street e do complexo industrial nos EUA, que é ceivado pela corrupção, e onde a porta giratória – executivos de empresas/secretários do governo – nunca deixa de funcionar, em todas as administrações.
6) Há, entre os organizadores dos protestos, gente fracamente favorável à privatização da Petrobras e das riquezas nacionais, com um evidente complexo de vira-latas diante dos interesses estrangeiros. Como analisar esse movimento à luz da história brasileira?De novo o nacionalismo versus entreguismo?
R – Está claro que, por trás da Operação Lava-Jato, o objetivo é desmoralizar a Petrobras e as empresas estatais, de modo a criar as condições para privatizá-las. Porém, estou certo de que as Forças Armadas não permitirão, não intervirão no processo político nem há fundamentos para golpe de Estado, mediante impeachment da presidenta Dilma Rousseff, contra a qual não há qualquer prova de corrupção, fraude eleitoral etc., elemento sempre usado na liturgia subversiva das entidades e líderes políticos que a USAID, NED e outras entidades dos EUA patrocinam.
O antipolítico tem a ver com ditadura
Por Paulo Moreira Leite, em seu blog:
Um número considerável de cidadãos tem comemorado o tratamento agressivo recebido pelos políticos que comparecem aos protestos de domingo.
É um sinal preocupante e condenável. O silêncio dos políticos e a perseguição das liberdades é uma herança do fascismo e das piores tradições autoritárias.
Vamos aos fatos. No domingo, em São Paulo, o senador Aloysio Nunes Ferreira, um dos líderes mais importantes do PSDB, foi hostilizado quando se encontrava nas proximidades de um caminhão de som do Vem prá Rua, movimento que tem ligações com os tucanos: “sem partido, sem partido,” gritavam.
Nenhum político foi tratado de forma tão humilhante como o deputado Paulinho (SD-SP), presidente da Força Sindical. Paulinho tinha motivos para imaginar que iria sentir-se em casa no domingo.
Afinal, foi ele quem levantou o braço de Aécio no 1º de maio do ano passado, quando o futuro candidato do PSDB disse que estaria de volta no ano seguinte como “Presidente da República.” Naquele mesmo dia, Paulinho chegou a dizer que o lugar de Dilma “era na Papuda.”
No domingo passado, Paulinho não só foi impedido por vaias de abrir a boca quando chegou perto do microfone num caminhão de som que ele próprio levou a manifestação. Também ouviu gritos de “oportunista” e o célebre coro “Um, dois, três, quatro, cinco mil, queremos que o Paulinho vá para a …..” descreve a repórter Aline Ribeiro, da Época, que acompanhou a cena de perto. O esforço de Paulinho para ajudar nos protestos incluiu, ainda, garantir a presença de duas celebridades no caminhão de som, a cantora Vanessa Camargo e Ronaldo, fenômeno do oportunismo. Nada mais injusto, portanto, que chamar Paulinho da Força de oportunista, como se gritava em volta do caminhão de som.
Em vários pontos do país, outros políticos, inclusive os tucanos Carlos Sampaio e Marcos Pestana, sem falar no senador Ronaldo Caiado, do DEM, preferiram participar dos protestos como cidadãos anônimos.
Os protestos são uma força contra o governo Dilma e a oposição, após uma quarta derrota nas urnas, acredita que podem servir de atalho para chegar a um poder de qualquer maneira - como se compreende por faixas que pedem impeachment e/ou golpe militar. O alvo dos protestos é este, como disse aqui ontem. O resto - mesmo a corrupção - é perfumaria do ponto de vista da prioridade das manifestações.
Do ponto de vista histórico, o tratamento agressivo contra os políticos - inclusive aliados - é uma herança do fascismo, aprende-se pela leitura de Hannah Arendt.
Em “Origens do totalitarismo”, ela explica o nascimento das ditaduras do século XX a partir do colapso das organizações de classe - como os sindicatos de trabalhadores - e dos partidos políticos, que sustentavam o cotidiano de uma vida democrática.
“A queda das paredes protetores das classes transformou as maiorias adormecidas, que existiam por trás de todos os partidos, numa grande massa desorganizada e desestruturada de indivíduos furiosos que nada tinham em comum exceto a vaga noção de que as esperanças partidárias eram vãs.”
A desilusão com o sistema partidário - conceito é a matriz da “deslegitimação” do sistema político de que fala o juiz Sérgio Moro em seu texto sobre a Operação Mãos Limpas - é parte necessária desse processo.
Como explica Arendt, até “os mais respeitados, eloquentes e representativos membros da comunidade” passam a ser apontados como “uns néscios”, enquanto as autoridades constituídas se tornam “não apenas perniciosas mas também obtusas e desonestas.”
Quem acha que essa opinião faz sentido com sua própria visão sobre os políticos do Brasil de hoje, precisa repensar seus conceitos. Hannah Arendt está falando sobre a base ideológica do cidadão comum que, na Alemanha, deu a base social para o nazismo e, na Itália, forneceu o cimento para o nazismo.
A construção das ditaduras em sociedades divididas em classes sociais - um traço típico dos regimes capitalistas - envolve, em primeiro lugar, reprimir e desorganizar os partidos que, pela simples existência, demonstram a presença de interesses divergentes e contraditórios em cada sociedade e afirmam o direito dos cidadãos optar por um lado e outro, por um interesse e outro.
Na Alemanha da década de 1930, esses partidos eram a Social Democracia e o Partido Comunista. Na Itália, era o PS, que mais tarde se transformou-se no PCI.
Eles eram os baluartes da democracia, não porque tivessem grandes amores pelas democracia - PC alemão era stalinista até a medula - mas porque eram a garantia da divergência, a proteção ao confronto de ideias e interesses. O ataque a esses partidos abriu as portas para o ataque aos demais, ao fim da divisão de poderes, ao colapso da liberdade.
Em suas campanhas eleitorais, Hitler se recusava a apresentar um programa de governo, dizendo que o mais importante é a “vontade humana,” recorda o professor Jean Touchard, em sua “Histoire des Idees Politiques. Mussolini consolidou-se no poder dizendo que os “fascistas têm a coragem de rejeitar todas as teorias políticas tradicionais: somos aristocratas e democratas, revolucionários e reacionários, proletários e anti proletários, pacifistas e anti pacifistas.”
Numa definição essencial para eliminar a diferença, o conflito, a alternância, a democracia, enfim, Mussolini sintetizou: “É suficiente possuir um ponto fixo: a nação.” O horror de Hitler a políticos e às eleições o levou a copiar uma frase bíblica: “É mais fácil um camelo passar por uma agulha do que descobrir um grande homem através de uma eleição.”
Precisa dizer mais alguma coisa?
Blog do Miro
Um número considerável de cidadãos tem comemorado o tratamento agressivo recebido pelos políticos que comparecem aos protestos de domingo.
É um sinal preocupante e condenável. O silêncio dos políticos e a perseguição das liberdades é uma herança do fascismo e das piores tradições autoritárias.
Vamos aos fatos. No domingo, em São Paulo, o senador Aloysio Nunes Ferreira, um dos líderes mais importantes do PSDB, foi hostilizado quando se encontrava nas proximidades de um caminhão de som do Vem prá Rua, movimento que tem ligações com os tucanos: “sem partido, sem partido,” gritavam.
Nenhum político foi tratado de forma tão humilhante como o deputado Paulinho (SD-SP), presidente da Força Sindical. Paulinho tinha motivos para imaginar que iria sentir-se em casa no domingo.
Afinal, foi ele quem levantou o braço de Aécio no 1º de maio do ano passado, quando o futuro candidato do PSDB disse que estaria de volta no ano seguinte como “Presidente da República.” Naquele mesmo dia, Paulinho chegou a dizer que o lugar de Dilma “era na Papuda.”
No domingo passado, Paulinho não só foi impedido por vaias de abrir a boca quando chegou perto do microfone num caminhão de som que ele próprio levou a manifestação. Também ouviu gritos de “oportunista” e o célebre coro “Um, dois, três, quatro, cinco mil, queremos que o Paulinho vá para a …..” descreve a repórter Aline Ribeiro, da Época, que acompanhou a cena de perto. O esforço de Paulinho para ajudar nos protestos incluiu, ainda, garantir a presença de duas celebridades no caminhão de som, a cantora Vanessa Camargo e Ronaldo, fenômeno do oportunismo. Nada mais injusto, portanto, que chamar Paulinho da Força de oportunista, como se gritava em volta do caminhão de som.
Em vários pontos do país, outros políticos, inclusive os tucanos Carlos Sampaio e Marcos Pestana, sem falar no senador Ronaldo Caiado, do DEM, preferiram participar dos protestos como cidadãos anônimos.
Os protestos são uma força contra o governo Dilma e a oposição, após uma quarta derrota nas urnas, acredita que podem servir de atalho para chegar a um poder de qualquer maneira - como se compreende por faixas que pedem impeachment e/ou golpe militar. O alvo dos protestos é este, como disse aqui ontem. O resto - mesmo a corrupção - é perfumaria do ponto de vista da prioridade das manifestações.
Do ponto de vista histórico, o tratamento agressivo contra os políticos - inclusive aliados - é uma herança do fascismo, aprende-se pela leitura de Hannah Arendt.
Em “Origens do totalitarismo”, ela explica o nascimento das ditaduras do século XX a partir do colapso das organizações de classe - como os sindicatos de trabalhadores - e dos partidos políticos, que sustentavam o cotidiano de uma vida democrática.
“A queda das paredes protetores das classes transformou as maiorias adormecidas, que existiam por trás de todos os partidos, numa grande massa desorganizada e desestruturada de indivíduos furiosos que nada tinham em comum exceto a vaga noção de que as esperanças partidárias eram vãs.”
A desilusão com o sistema partidário - conceito é a matriz da “deslegitimação” do sistema político de que fala o juiz Sérgio Moro em seu texto sobre a Operação Mãos Limpas - é parte necessária desse processo.
Como explica Arendt, até “os mais respeitados, eloquentes e representativos membros da comunidade” passam a ser apontados como “uns néscios”, enquanto as autoridades constituídas se tornam “não apenas perniciosas mas também obtusas e desonestas.”
Quem acha que essa opinião faz sentido com sua própria visão sobre os políticos do Brasil de hoje, precisa repensar seus conceitos. Hannah Arendt está falando sobre a base ideológica do cidadão comum que, na Alemanha, deu a base social para o nazismo e, na Itália, forneceu o cimento para o nazismo.
A construção das ditaduras em sociedades divididas em classes sociais - um traço típico dos regimes capitalistas - envolve, em primeiro lugar, reprimir e desorganizar os partidos que, pela simples existência, demonstram a presença de interesses divergentes e contraditórios em cada sociedade e afirmam o direito dos cidadãos optar por um lado e outro, por um interesse e outro.
Na Alemanha da década de 1930, esses partidos eram a Social Democracia e o Partido Comunista. Na Itália, era o PS, que mais tarde se transformou-se no PCI.
Eles eram os baluartes da democracia, não porque tivessem grandes amores pelas democracia - PC alemão era stalinista até a medula - mas porque eram a garantia da divergência, a proteção ao confronto de ideias e interesses. O ataque a esses partidos abriu as portas para o ataque aos demais, ao fim da divisão de poderes, ao colapso da liberdade.
Em suas campanhas eleitorais, Hitler se recusava a apresentar um programa de governo, dizendo que o mais importante é a “vontade humana,” recorda o professor Jean Touchard, em sua “Histoire des Idees Politiques. Mussolini consolidou-se no poder dizendo que os “fascistas têm a coragem de rejeitar todas as teorias políticas tradicionais: somos aristocratas e democratas, revolucionários e reacionários, proletários e anti proletários, pacifistas e anti pacifistas.”
Numa definição essencial para eliminar a diferença, o conflito, a alternância, a democracia, enfim, Mussolini sintetizou: “É suficiente possuir um ponto fixo: a nação.” O horror de Hitler a políticos e às eleições o levou a copiar uma frase bíblica: “É mais fácil um camelo passar por uma agulha do que descobrir um grande homem através de uma eleição.”
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Blog do Miro
sexta-feira, 13 de março de 2015
ENeDC reunirá centenas no Recife. Confira a programação
Escrito por: Redação
Fonte: OmbudsPE
Coronelismo eletrônico, comunicação de povos tradicionais e cineclubismo. Esses são apenas alguns temas das mais de 20 atividades autogestionadas que irão acontecer pela manhã, fora as palestras que acontecerão à tarde.
Cada atividade possui uma proposta e um formato diferente, havendo oficinas, rodas de diálogo, relatos de experiências e apresentação de artigos científicos. O ENeDC acontecerá na Universidade Católica de Pernambuco e tem como realizadores, além da própria Unicap, o Centro de Cultura Luiz Freire, o Fopecom e o comitê estadual do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação.
O Encontro pode ser considerado um evento preparatório para o II Encontro Nacional pelo Direito à Comunicação, que irá acontecer em Belo Horizonte, entre os dias 10 e 12 de abril. As inscrições já estão fechadas e as quase mil pessoas que se inscreveram precisam chegar com antecedência ao local da atividade ou mesa de debates para realizar o cadastro no evento. Todas as atividades autogestionadas serão ministradas ou apresentadas por entidades, coletivos ou pessoas que mandaram propostas que se alinham à proposta do evento de fomentar o debate sobre o direito à comunicação.
Além dessas atividades, as mesas de debate irão trazer figuras importantes da academia e da militância pela democratização da comunicação. Na quinta-feira (12), estarão na mesa de abertura Rosane Bertoti, do Fórum Nacional da Democratização da Comunicação (FNDC), Cesar Bolaño, da Universidade Federal de Sergipe (UFS), Luciana Santos, deputada do PCdoB e Octávio Pieranti, Secretário Substituto de Serviços de Comunicação Eletrônica. Na sexta-feira, duas mesas irão acontecer pela tarde, “Os desafios para o direito à comunicação na era digital”, com Othon Jambeiro, da UFBA e H.D. Mabuse, do C.E.S.A.R. , e “A mídia pública, independente e comunitária no Nordeste”, mediada por Iano Flávio, da Universitária FM de Natal, com Paulo Rogério, da Mídia Étnica, Pedro iliveira, do Coletivo Nigéria e Rita Freire, da Empresa Brasileira de Comunicação, finalizando o dia com um ato público, apoiado pelo Som na Rural. No último dia, “O Nordeste, liberdade de expressão e regulação da comunicação” irá reunir , Gustavo Santos, da Unicap, e João Bosco, do Ministério Público Federal de Pernambuco. Todas as mesas contarão com transmissão streaming ao vivo pela internet.
Ainda como parte do ENeDC, o Som na Rural marcará presença na noite da sexta-feira, 13 de março. Para defender a regulação da radiodifusão e o fortalecimento do sistema público de comunicação em todos os estados do Nordeste, se apresentarão artistas como Lu Rabelo, Coco de Toré Pandeiro do Mestre e DJ Dolores. Esse momento, festivo e aberto, promete reunir centenas de pessoas em frente à Assembleia Legislativa de Pernambuco a partir das 19h.
Você pode ver a programação completa do evento neste link
Fonte: OmbudsPE
Coronelismo eletrônico, comunicação de povos tradicionais e cineclubismo. Esses são apenas alguns temas das mais de 20 atividades autogestionadas que irão acontecer pela manhã, fora as palestras que acontecerão à tarde.
Cada atividade possui uma proposta e um formato diferente, havendo oficinas, rodas de diálogo, relatos de experiências e apresentação de artigos científicos. O ENeDC acontecerá na Universidade Católica de Pernambuco e tem como realizadores, além da própria Unicap, o Centro de Cultura Luiz Freire, o Fopecom e o comitê estadual do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação.
O Encontro pode ser considerado um evento preparatório para o II Encontro Nacional pelo Direito à Comunicação, que irá acontecer em Belo Horizonte, entre os dias 10 e 12 de abril. As inscrições já estão fechadas e as quase mil pessoas que se inscreveram precisam chegar com antecedência ao local da atividade ou mesa de debates para realizar o cadastro no evento. Todas as atividades autogestionadas serão ministradas ou apresentadas por entidades, coletivos ou pessoas que mandaram propostas que se alinham à proposta do evento de fomentar o debate sobre o direito à comunicação.
Além dessas atividades, as mesas de debate irão trazer figuras importantes da academia e da militância pela democratização da comunicação. Na quinta-feira (12), estarão na mesa de abertura Rosane Bertoti, do Fórum Nacional da Democratização da Comunicação (FNDC), Cesar Bolaño, da Universidade Federal de Sergipe (UFS), Luciana Santos, deputada do PCdoB e Octávio Pieranti, Secretário Substituto de Serviços de Comunicação Eletrônica. Na sexta-feira, duas mesas irão acontecer pela tarde, “Os desafios para o direito à comunicação na era digital”, com Othon Jambeiro, da UFBA e H.D. Mabuse, do C.E.S.A.R. , e “A mídia pública, independente e comunitária no Nordeste”, mediada por Iano Flávio, da Universitária FM de Natal, com Paulo Rogério, da Mídia Étnica, Pedro iliveira, do Coletivo Nigéria e Rita Freire, da Empresa Brasileira de Comunicação, finalizando o dia com um ato público, apoiado pelo Som na Rural. No último dia, “O Nordeste, liberdade de expressão e regulação da comunicação” irá reunir , Gustavo Santos, da Unicap, e João Bosco, do Ministério Público Federal de Pernambuco. Todas as mesas contarão com transmissão streaming ao vivo pela internet.
Ainda como parte do ENeDC, o Som na Rural marcará presença na noite da sexta-feira, 13 de março. Para defender a regulação da radiodifusão e o fortalecimento do sistema público de comunicação em todos os estados do Nordeste, se apresentarão artistas como Lu Rabelo, Coco de Toré Pandeiro do Mestre e DJ Dolores. Esse momento, festivo e aberto, promete reunir centenas de pessoas em frente à Assembleia Legislativa de Pernambuco a partir das 19h.
Você pode ver a programação completa do evento neste link
quinta-feira, 12 de março de 2015
Projeto de Regularização Fundiária faz entrega de sete motocicletas para o Programa Terra Legal.
O Projeto de Regularização Fundiária financiado pelo Plano de Desenvolvimento Sustentável Regional do Xingu e executado pela Fundação Viver Produzir e Preservar entregou sete motocicletas ao coordenador do Programa Terra Legal. O objetivo é fazer com que os trabalhos em todo o eixo da Transamazônica e Xingu sejam executados com eficiência para que o programa continue visitando todas as áreas rurais de fácil ou difícil acesso. A meta é garantir que a legalidade chegue longe e que a região mude o cenário de problemas fundiários.
O mutirão de regularização já visitou seis municípios e comemora o sucesso do projeto que já dialogou com mais de três mil pessoas que buscam pela legalidade de suas propriedades rurais.
‘’ A gente comemora porque sabe que estes agricultores tem direito aos programas do governo federal e também aos créditos rurais. E esses benefícios só são possíveis a partir do momento em que as propriedades são legalizadas’’. Concluiu João Batista, Coordenador Geral da FVPP.
Raiany Brito // ASCOM FVPP
raianybrito.fvpp@gmail.com
quarta-feira, 11 de março de 2015
“A internet veio para bagunçar o coreto do intermediário” – Entrevista JornalismoB
“A internet veio para bagunçar o coreto do intermediário” – Entrevista com Marcelo Branco
Alexandre Haubrich
Aos 53 anos e trabalhando na área de tecnologia da informação desde os 16, Marcelo Branco é um dos mais respeitados pensadores – e ativistas – das redes sociais digitais e de seus usos políticos. Acompanhou de perto a virada do que eram os sistemas analógicos para a digitalização e, militante petista, com a ascensão da luta pelo Software Livre passou a misturar o trabalho profissional com o ativismo político. Organizou os primeiros Campus Party no Brasil, e, em 2010, coordenou a campanha presidencial de Dilma Rousseff (PT) nas redes sociais. Diz estar curioso com os movimentos sociais de novos formatos, desafiado por compreender o que há de comum entre as mobilizações que ocorreram no mundo árabe, na Espanha, em Wall Street, no México e no Brasil, “que nascem na internet, se encubam na internet, se fortalecem nas ruas, se alimentam nas redes e, em algum momento, viralizam como um viral de internet, e a revolta generaliza”. É a partir daí que começa a entrevista que concedeu ao Jornalismo B:
Se colocam assim potencialidades e limitações desse tipo de movimento. No Brasil, por exemplo, explodiu rápido e também recuou rápido. Isso é um pouco característico da própria internet?
Esses movimentos só foram possíveis porque existe a internet, no mundo inteiro, todos eles. Se não tivesse a internet, isso não teria acontecido. Segundo: a força dos movimentos mais organizados – Movimento Passe Livre, Bloco de Lutas, Mídia Ninja –, que são grupos organizados ativos, que tiveram um papel bastante importante no Brasil, ela não é o único fator que determinou aquela explosão, falando no nosso campo, o campo popular de esquerda. Há um elemento, ainda, que fez essa explosão acontecer em todos os lugares, que dá para dizer que é espontâneo. Esses movimentos originais, que iniciaram os protestos no Brasil, isso foi além deles. A internet viralizou uma indignação. Pós manifestações de Junho, pós revolta dos indignados na Espanha, as mesmas forças políticas, inclusive com mais aliados políticos, tentaram fazer algo igual, e tiveram uma força nas redes igual ou maior, e essas revoltas não aconteceram. São movimentos que nascem encubados na rede, saem para as ruas, e se realimentam. E mesmo que se tente organizar de novo, em outro momento, isso não tem acontecido. Então acho que a potencialidade desses movimentos é a força política que eles têm. Desde Seattle, em 1999, se observa que quem tem levado pessoas para as ruas não eram os partidos, não eram os sindicatos, não eram as organizações tradicionais, que enfrentam uma crise de representação das suas bases sociais. E quem tem levado as pessoas para as ruas têm sido pequenos grupos, pequenas organizações, ou os indivíduos conectados em rede em torno de uma ideia.
Essas organizações, partidos, movimentos populares tradicionais, sindicatos, não têm compreendido o papel da internet?
Acho que são duas coisas. Sim, é verdade que elas não têm compreendido o papel da internet. Até junho do ano passado, pelo menos, viam tudo isso com muito ceticismo, e até crítico e preconceituoso com relação às novas formas, à internet. Mas acho que também não é só uma questão de programa, é uma questão estrutural. Esse tipo de organização hierárquica, que são os partidos, as associações, os sindicatos, que representam seus filiados, seus sindicalizados perante a sociedade, a estrutura é da Era Industrial, uma organização fruto da Revolução Industrial e aquela organização social era a forma com que os movimentos viam, ter uma representação política que era a única possível. Porque individualmente ninguém tinha a possibilidade de colocar uma ideia e essa ideia se transformar em uma revolta, enfim. Então a forma encontrada, típica da Era Industrial, foi essas organizações, que continuam sendo muito importantes nas lutas, mas cada vez perdendo mais o seu peso. São organizações hierárquicas e verticais. Tiram as suas formas de luta em uma assembleia geral ou em uma convenção partidária, e aquelas reivindicações ou aquela plataforma política passa a ser apresentada por aquela sigla ou por aquela entidade que representa os seus filiados. Os movimentos sociais em rede são de estrutura totalmente diferente. Não há um intermediário. São indivíduos conectados em rede fazendo grandes ações em massa, é isso o que a gente têm observado desde 2011. E o que une as pessoas são as ideias. Inclusive as faixas na Espanha diziam assim: “o que nos une são as ideias”.
Ainda que organizações políticas componham esses movimentos, não são tão relevantes…
Na Espanha foram totalmente irrelevantes. No Brasil, menos, porque aqui teve a força do Bloco de Lutas, teve a força do Movimento Passe Livre de São Paulo, e na internet uma força muito grande da Mídia Ninja – e de vários outros coletivos, mas, pela leitura que a gente teve dos gráficos da rede, a Mídia Ninja teve um papel importante nesse processo. E depois não teve… Nem dá pra dizer que Junho no Brasil foi um movimento. Na Espanha eles dizem: “somos do movimento 15M”. No Brasil não, aqui foram os movimentos. Eu não acho que os movimentos históricos que resistiram ao neoliberalismo no Brasil, impediram a Alca e, nessa luta, elegeram o Lula e sustentaram esse projeto político até hoje, são movimentos que já eram. Não, eles têm um papel muito importante. Agora, são movimentos distintos desses movimentos em rede. E podem em alguns momentos estar aliados, mas podem em outros momentos estar em contradições. Só que nunca os partidos, os sindicatos e as associações vão ser movimentos em rede, com estruturas horizontais. Pode até mudar o programa do PT, do PSOL, do PSTU, reformar e fazer um programa mais moderno, que tenha uma política de comunicação nas redes sociais do que têm hoje, que é muito ruim…mas vão ser movimentos hierárquicos, típicos da Era Industrial, da Revolução Industrial. E esses novos movimentos que a gente têm visto não são movimentos típicos da Era Industrial. São novidades, porque não têm intermediário. Como a indústria da música sofre até hoje o fim do intermediário na música, como a comunicação está nessa do intermediário, que era o veículo, era o jornalista, e agora todo mundo faz comunicação sem o intermediário. A internet veio para bagunçar o coreto do intermediário: ou ele se redescobre nesse novo cenário ou ele morre, porque o cenário não é o mesmo que era há 15, 20 anos atrás. Existe uma nova dinâmica social e os protagonistas são outros, são os nativos digitais, que nasceram com a internet na mão. E a lógica do pensamento digital é diferente da lógica analógica do período anterior. Enfim, os partidos e sindicatos ainda têm o seu papel. Perderam o monopólio da representação, dos movimentos sociais, e têm sido menos capazes de produzir ações de massa do que essas novas formas de organização.
Por que a comunicação deles é ruim?
É muito a influência dos jornalistas, dos assessores de imprensa. Fazem uma comunicação broadcasting, como a comunicação de massa funciona: transmite uma ideia, um conteúdo, bota ali e transmite, isso vai atingir centenas, ou milhares ou milhões. Os partidos agem assim, passam o dia inteiro botando banner com propaganda do partido, o que o partido acha certo, o que o partido acha errado…e usa o Facebook e Twitter, mas não faz autocomunicação. As campanhas eleitorais sofreram desse mal também. A forma de conexão típica das redes sociais é uma autocomunicação de massas, não é uma comunicação mass media, uma comunicação broadcasting. Então o sucesso da tua comunicação vai depender muito do quanto mais ela engajou o público na construção da tua notícia, na construção do teu conteúdo, no comentário, na publicação de novos fatos em relação àquele conteúdo publicado originalmente. Então é isso o que funciona. Se a gente ver o que for o gráfico de radiografia das redes nessas eleições, com dois blocos que não se falavam entre si e não falavam com mais ninguém nas redes, e o que foi a comunicação em Junho no Brasil. Não tinha um núcleo forte que espalhava a notícia, e aquele conteúdo era disseminado. Eram milhares, milhões de pessoas gerando conteúdo, sem falar entre si, mas com o mesmo sentido. Então havia diálogo, comunicação, entre aqueles atores daquele movimento, gerando conteúdo próprio. O diálogo, o engajamento…o próprio mercado usa esse termo: nas redes sociais tem que ter engajamento do consumidor na tua marca, se não não prospera. Os próprios monopólios (de mídia) aqui do Sul, “mande sua foto, mande seu conteúdo, comente, leitor ativo…”.
4
Eles estão entendendo…
Sim, eles estão entendendo. Eles estão em busca, correndo, e avançando mais do que a esquerda. A esquerda sempre teve preconceito em relação a essas novas formas, e eu acho que é natural, pela estrutura de poder que se constituiu na esquerda, nos partidos políticos, nos movimentos e no Estado. É onde está mais atrasado as novas formas. No mundo inteiro, não só no Brasil. Os partidos e os Estados não se abrem para novas formas de participação via internet. Porque têm um poder político estabelecido a partir da lógica anterior, e esse novo cenário é perda de poder. Imagina, o PT se funcionasse de forma horizontal, colaborativa…o papel de um presidente, é perda de poder. A executiva nacional não teria o poder que tem hoje. Então é uma forma de se manter estruturalmente no poder, o dirigente sindical, o líder estudantil…a internet atrapalha essa ambição de poder, essa disputa vertical de poder que existe nas instituições. Se isso é positivo para a construção de uma democracia, eu não sei, mas o período anterior não existe mais, e nós temos que repensar como construir um aperfeiçoamento da democracia representativa. Nós lutamos, e vários antepassados nossos deram suas vidas para construir essa democracia que nós temos hoje no Brasil, mas ela não nos representa mais. Não dá para acharmos que isso aqui é uma democracia. Existem hoje novas possibilidades de aperfeiçoar a democracia com participação direta. Com mais participação e tomada de decisão por parte da população nas políticas públicas do que era há 15 ou 20 anos. Só que essas plataformas não são incorporadas pelos Estados democráticos, republicanos. Existe uma resistência dos poderes constituídos em conviver com as novas formas. E esses jovens já vivem com as novas formas no seu cotidiano, para baixar música, para marcar festinha, para marcar eventos, para marcar passeata. No dia a dia eles já vivem com as novas formas, então esse Estado que está aí não representa, porque é pra votar de quatro em quatro anos…como ele participa? Eu recebi uma mensagem no Facebook, durante as manifestações de Junho, de um cara que eu conheço aqui de Porto Alegre, deve ter uns 20 anos…ele disse “Branco, eu queria falar contigo porque te acho mais ou menos politizado. No tempo de vocês, vocês não podiam falar, não podiam se expressar, liberdade de expressão era proibida, iam presos. Hoje não, a gente fala o que quiser. Nós podemos falar, somos livres para falar. Só que ninguém nos escuta. Black Bloc neles”, o cara terminou assim. Preciso ser ouvido, preciso que alguém me escute. Isso foi Junho.
Aproveitando que falaste da questão do fechamento do Estado, gostaria de uma avaliação tua sobre o Gabinete Digital (projeto do governo do Rio Grande do Sul que buscou criar ferramentas de participação via internet).
Ele teve uma crise de identidade. Foi importante, talvez a única marca diferencial desse governo Tarso Genro, pelo menos sob a ótica que eu vivo. Mas foi bastante tímida, também. No primeiro momento do Gabinete Digital, me pareceu que eles ficaram muito focados nas ferramentas. Parecia “a informática do governador”. Construía uma ferramenta do “governador pergunta”, “governador responde”, “agenda do governador”, que é importante porque é uma experiência de novas formas de participação, mas achei que ficou muito focado nas ferramentas. E não tinha nessas ferramentas novas vínculos com aquilo que nós temos de histórico: Orçamento Participativo, Conselhos Populares…era uma coisa dissociada. E coisas muito simples. O governador pergunta, aí o governador responde…a TAM já tinha isso, de “fale com o presidente”. E em um segundo momento do Gabinete Digital ele deixou de ser uma coisa da tecnologia e passou a ser mais um espaço da comunicação digital do governo. O “Tarso 2.0” transitava pelo Gabinete Digital. Mudou toda a equipe, que era mais técnicos de Software Livre, e virou mais comunicadores, e ficou sendo o que a Secom deveria fazer em todo o governo. Ele disputou, confundiu o que seria o papel da Secretaria de Comunicação do Governo com o Gabinete Digital, e o Gabinete Digital ficou, pra mim, sem identidade. Ou era a construção de ferramentas para a participação, e aí ele ficou bastante tímido, e em um segundo momento era a comunicação 2.0 do governador, a comunicação interativa do governador. E eu acho que o auge de tudo isso foi nas manifestações de Junho, o melhor momento do Gabinete Digital foi nas manifestações de Junho, que foi usando não ferramentas construídas pela Procergs, mas ferramentas como o hangout, botaram o governador em tempo real dialogando com as mídias sociais em um momento de crise institucional que a gente estava vivendo no Brasil e no Rio Grande do Sul. Foi o melhor momento do Gabinete Digital. Agora, como experiência é positiva.
Qual a relevância das redes na disputa eleitoral, pensando especialmente na eleição nacional? Inclusive o Sérgio Amadeu disse que sem a internet o Aécio Neves teria vencido…
Eu concordo com ele. Não que eu não ache que a internet poderia ter sido mais decisiva, tanto para um lado quanto para o outro. Acho que ainda foi muito pouco explorada, pelo potencial que tem. Mas se não fosse a internet, com aquela capa da Veja na finaleira da eleição, não teríamos uma resposta. Por onde íamos dar essa resposta? Foi a internet que ajudou, o que fomos nas redes foi determinante para não termos perdido a eleição. Se não fossem as redes, o resultado eleitoral poderia ser diferente, e essa pequena margem talvez fosse favorável para o Aécio, e não para a gente. Então sim, as redes sociais foram importantes nesse processo todo. Mas eu acho que as campanhas oficiais foram campanhas muito conservadoras, muito focadas na visão que tem o marqueteiro, que não conhece o ambiente da internet. Foi muito focada na reprodução daquilo que ia pra TV, pro rádio, pros impressos do partido. Houve pouco diálogo e muito broadcast, muita publicação de cima pra baixo
E se mantiveram os núcleos isolados, com pouca interação com os divergentes.
Sim, mesmo os militantes ficaram naqueles núcleos, uma comunicação que não dialoga, não passa. Os dois lados não dialogavam entre si. Teoricamente a internet poderia ter servido para a discussão de uma plataforma. É que esse não é um problema só da internet. Essa bipolarização que existe no Brasil há mais de 12 anos empobrece a política, porque os militantes de esquerda passam…tudo é uma questão de oposição e situação. Se o buraco é um buraco em Porto Alegre, o cara dá uma patada no Fortunati. Se o buraco é em São Leopoldo, ele defende o prefeito. O mesmo buraco, a mesma situação. Se estão cortando árvores, depende de quem é o prefeito. Então tudo é uma questão de disputa eleitoral. Os jovens militantes dos partidos estão pautados pelo calendário eleitoral. Já estão falando em 2018. Perdemos a disputa política conceitual. Independente de termos ganho a eleição, nós tivemos uma grande derrota ideológica, nós perdemos nos conceitos. O Brasil que saiu das urnas é um Brasil muito mais conservador do que era alguns anos atrás. Perdemos nos conceitos. Abrimos mão de fazer disputas políticas, politizadas, sobre temas centrais. Sempre é uma disputa em relação ao período eleitoral. Junho, não. Os manifestantes de Junho tinham uma pauta política. De todos os lados, mas tinham uma pauta política que não estava presa ao calendário eleitoral. Queriam melhor Saúde, melhor Educação, transporte coletivo de melhor qualidade, gratuito. Tinha uma pauta política que não estava para ser direcionada para um governante ou para um partido que assumisse amanhã ou depois. Inclusive, muitas reivindicações de Junho não cabem nos marcos institucionais que nós temos hoje. Por isso que, do meu ponto de vista, foram revoltas antissistema. Não eram pautas que cabiam dentro dos marcos institucionais no Brasil.
O PT entendeu mal isso?
Mal, muito mal. E pagamos o preço nessas eleições. Predomina até hoje, mesmo pós eleições e a nossa quase derrota nacional, nos militantes do PT…os militantes se comportaram muito mal. Os militantes de esquerda, em junho de 2013, onde pela primeira vez milhões de jovens saem às ruas, jovens que tinham de seis a oito anos quando o Lula chegou no governo, jovens que estavam fazendo sua estreia na política, que até então publicavam ovo frito e festinha de aniversário no Facebook e passaram a publicar “mais Saúde, mais Educação, melhor transporte coletivo”…esses jovens, que estavam tendo sua estreia na vida política, foram chamados de “coxinhas”, de “agentes da CIA”, de “direita”. Enquanto o outro lado, a direita, soube usar melhor isso que estava acontecendo e dizer “estamos junto com vocês”. A análise dos gráficos mostra isso. Até o dia 17 de junho, só tinha 13 a 15% de manifestações na internet contra o PT e contra a Dilma. E o Brasil já estava nas ruas. E terminou junho com tudo no colo da Dilma. Houve também uma movimentação da mídia de massas, dos grandes meios de comunicação, que, até a vaia para a Dilma no Mané Garrincha (estádio de futebol em Brasília), chamavam os manifestantes de “bandidos”, “delinquentes”. Esse era o tom dos principais meios de comunicação do Brasil: Globo, Estadão. Eles hostilizavam os manifestantes e estavam contra as manifestações. Quando a Dilma foi vaiada no Mané Garrincha eles viram que essas manifestações poderiam ser manifestações contra o governo. E não era contra o governo, era contra o sistema político, que tinha um governo de esquerda, progressista. Mas não era uma manifestação contra a Dilma, “Fora Dilma”. Essa sensação de que os movimentos de Junho foram capturados pela direita, ou que foram dirigidos pela direita, organizados pelo “PIG” (Partido da Imprensa Golpista, como são chamados alguns meios de comunicação hegemônicos), é uma viagem dos militantes de esquerda do PT. Até hoje, pós eleições, eles continuam tendo uma avaliação de que os movimentos de Junho foram organizados para derrotar a Dilma, para derrotar o PT. Só tem os marcos eleitorais nas cabeças desses militantes. Se os caras estão lá para reivindicar mais democracia, mais participação, melhoria na Saúde, melhoria no transporte público, melhoria na Educação, a esquerda tinha que estar junto com essa galera, e não dizendo “vão pra casa, vocês são agentes da CIA”.
Por Jornalismo B
Alexandre Haubrich
Aos 53 anos e trabalhando na área de tecnologia da informação desde os 16, Marcelo Branco é um dos mais respeitados pensadores – e ativistas – das redes sociais digitais e de seus usos políticos. Acompanhou de perto a virada do que eram os sistemas analógicos para a digitalização e, militante petista, com a ascensão da luta pelo Software Livre passou a misturar o trabalho profissional com o ativismo político. Organizou os primeiros Campus Party no Brasil, e, em 2010, coordenou a campanha presidencial de Dilma Rousseff (PT) nas redes sociais. Diz estar curioso com os movimentos sociais de novos formatos, desafiado por compreender o que há de comum entre as mobilizações que ocorreram no mundo árabe, na Espanha, em Wall Street, no México e no Brasil, “que nascem na internet, se encubam na internet, se fortalecem nas ruas, se alimentam nas redes e, em algum momento, viralizam como um viral de internet, e a revolta generaliza”. É a partir daí que começa a entrevista que concedeu ao Jornalismo B:
Se colocam assim potencialidades e limitações desse tipo de movimento. No Brasil, por exemplo, explodiu rápido e também recuou rápido. Isso é um pouco característico da própria internet?
Esses movimentos só foram possíveis porque existe a internet, no mundo inteiro, todos eles. Se não tivesse a internet, isso não teria acontecido. Segundo: a força dos movimentos mais organizados – Movimento Passe Livre, Bloco de Lutas, Mídia Ninja –, que são grupos organizados ativos, que tiveram um papel bastante importante no Brasil, ela não é o único fator que determinou aquela explosão, falando no nosso campo, o campo popular de esquerda. Há um elemento, ainda, que fez essa explosão acontecer em todos os lugares, que dá para dizer que é espontâneo. Esses movimentos originais, que iniciaram os protestos no Brasil, isso foi além deles. A internet viralizou uma indignação. Pós manifestações de Junho, pós revolta dos indignados na Espanha, as mesmas forças políticas, inclusive com mais aliados políticos, tentaram fazer algo igual, e tiveram uma força nas redes igual ou maior, e essas revoltas não aconteceram. São movimentos que nascem encubados na rede, saem para as ruas, e se realimentam. E mesmo que se tente organizar de novo, em outro momento, isso não tem acontecido. Então acho que a potencialidade desses movimentos é a força política que eles têm. Desde Seattle, em 1999, se observa que quem tem levado pessoas para as ruas não eram os partidos, não eram os sindicatos, não eram as organizações tradicionais, que enfrentam uma crise de representação das suas bases sociais. E quem tem levado as pessoas para as ruas têm sido pequenos grupos, pequenas organizações, ou os indivíduos conectados em rede em torno de uma ideia.
Essas organizações, partidos, movimentos populares tradicionais, sindicatos, não têm compreendido o papel da internet?
Acho que são duas coisas. Sim, é verdade que elas não têm compreendido o papel da internet. Até junho do ano passado, pelo menos, viam tudo isso com muito ceticismo, e até crítico e preconceituoso com relação às novas formas, à internet. Mas acho que também não é só uma questão de programa, é uma questão estrutural. Esse tipo de organização hierárquica, que são os partidos, as associações, os sindicatos, que representam seus filiados, seus sindicalizados perante a sociedade, a estrutura é da Era Industrial, uma organização fruto da Revolução Industrial e aquela organização social era a forma com que os movimentos viam, ter uma representação política que era a única possível. Porque individualmente ninguém tinha a possibilidade de colocar uma ideia e essa ideia se transformar em uma revolta, enfim. Então a forma encontrada, típica da Era Industrial, foi essas organizações, que continuam sendo muito importantes nas lutas, mas cada vez perdendo mais o seu peso. São organizações hierárquicas e verticais. Tiram as suas formas de luta em uma assembleia geral ou em uma convenção partidária, e aquelas reivindicações ou aquela plataforma política passa a ser apresentada por aquela sigla ou por aquela entidade que representa os seus filiados. Os movimentos sociais em rede são de estrutura totalmente diferente. Não há um intermediário. São indivíduos conectados em rede fazendo grandes ações em massa, é isso o que a gente têm observado desde 2011. E o que une as pessoas são as ideias. Inclusive as faixas na Espanha diziam assim: “o que nos une são as ideias”.
Ainda que organizações políticas componham esses movimentos, não são tão relevantes…
Na Espanha foram totalmente irrelevantes. No Brasil, menos, porque aqui teve a força do Bloco de Lutas, teve a força do Movimento Passe Livre de São Paulo, e na internet uma força muito grande da Mídia Ninja – e de vários outros coletivos, mas, pela leitura que a gente teve dos gráficos da rede, a Mídia Ninja teve um papel importante nesse processo. E depois não teve… Nem dá pra dizer que Junho no Brasil foi um movimento. Na Espanha eles dizem: “somos do movimento 15M”. No Brasil não, aqui foram os movimentos. Eu não acho que os movimentos históricos que resistiram ao neoliberalismo no Brasil, impediram a Alca e, nessa luta, elegeram o Lula e sustentaram esse projeto político até hoje, são movimentos que já eram. Não, eles têm um papel muito importante. Agora, são movimentos distintos desses movimentos em rede. E podem em alguns momentos estar aliados, mas podem em outros momentos estar em contradições. Só que nunca os partidos, os sindicatos e as associações vão ser movimentos em rede, com estruturas horizontais. Pode até mudar o programa do PT, do PSOL, do PSTU, reformar e fazer um programa mais moderno, que tenha uma política de comunicação nas redes sociais do que têm hoje, que é muito ruim…mas vão ser movimentos hierárquicos, típicos da Era Industrial, da Revolução Industrial. E esses novos movimentos que a gente têm visto não são movimentos típicos da Era Industrial. São novidades, porque não têm intermediário. Como a indústria da música sofre até hoje o fim do intermediário na música, como a comunicação está nessa do intermediário, que era o veículo, era o jornalista, e agora todo mundo faz comunicação sem o intermediário. A internet veio para bagunçar o coreto do intermediário: ou ele se redescobre nesse novo cenário ou ele morre, porque o cenário não é o mesmo que era há 15, 20 anos atrás. Existe uma nova dinâmica social e os protagonistas são outros, são os nativos digitais, que nasceram com a internet na mão. E a lógica do pensamento digital é diferente da lógica analógica do período anterior. Enfim, os partidos e sindicatos ainda têm o seu papel. Perderam o monopólio da representação, dos movimentos sociais, e têm sido menos capazes de produzir ações de massa do que essas novas formas de organização.
Por que a comunicação deles é ruim?
É muito a influência dos jornalistas, dos assessores de imprensa. Fazem uma comunicação broadcasting, como a comunicação de massa funciona: transmite uma ideia, um conteúdo, bota ali e transmite, isso vai atingir centenas, ou milhares ou milhões. Os partidos agem assim, passam o dia inteiro botando banner com propaganda do partido, o que o partido acha certo, o que o partido acha errado…e usa o Facebook e Twitter, mas não faz autocomunicação. As campanhas eleitorais sofreram desse mal também. A forma de conexão típica das redes sociais é uma autocomunicação de massas, não é uma comunicação mass media, uma comunicação broadcasting. Então o sucesso da tua comunicação vai depender muito do quanto mais ela engajou o público na construção da tua notícia, na construção do teu conteúdo, no comentário, na publicação de novos fatos em relação àquele conteúdo publicado originalmente. Então é isso o que funciona. Se a gente ver o que for o gráfico de radiografia das redes nessas eleições, com dois blocos que não se falavam entre si e não falavam com mais ninguém nas redes, e o que foi a comunicação em Junho no Brasil. Não tinha um núcleo forte que espalhava a notícia, e aquele conteúdo era disseminado. Eram milhares, milhões de pessoas gerando conteúdo, sem falar entre si, mas com o mesmo sentido. Então havia diálogo, comunicação, entre aqueles atores daquele movimento, gerando conteúdo próprio. O diálogo, o engajamento…o próprio mercado usa esse termo: nas redes sociais tem que ter engajamento do consumidor na tua marca, se não não prospera. Os próprios monopólios (de mídia) aqui do Sul, “mande sua foto, mande seu conteúdo, comente, leitor ativo…”.
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Eles estão entendendo…
Sim, eles estão entendendo. Eles estão em busca, correndo, e avançando mais do que a esquerda. A esquerda sempre teve preconceito em relação a essas novas formas, e eu acho que é natural, pela estrutura de poder que se constituiu na esquerda, nos partidos políticos, nos movimentos e no Estado. É onde está mais atrasado as novas formas. No mundo inteiro, não só no Brasil. Os partidos e os Estados não se abrem para novas formas de participação via internet. Porque têm um poder político estabelecido a partir da lógica anterior, e esse novo cenário é perda de poder. Imagina, o PT se funcionasse de forma horizontal, colaborativa…o papel de um presidente, é perda de poder. A executiva nacional não teria o poder que tem hoje. Então é uma forma de se manter estruturalmente no poder, o dirigente sindical, o líder estudantil…a internet atrapalha essa ambição de poder, essa disputa vertical de poder que existe nas instituições. Se isso é positivo para a construção de uma democracia, eu não sei, mas o período anterior não existe mais, e nós temos que repensar como construir um aperfeiçoamento da democracia representativa. Nós lutamos, e vários antepassados nossos deram suas vidas para construir essa democracia que nós temos hoje no Brasil, mas ela não nos representa mais. Não dá para acharmos que isso aqui é uma democracia. Existem hoje novas possibilidades de aperfeiçoar a democracia com participação direta. Com mais participação e tomada de decisão por parte da população nas políticas públicas do que era há 15 ou 20 anos. Só que essas plataformas não são incorporadas pelos Estados democráticos, republicanos. Existe uma resistência dos poderes constituídos em conviver com as novas formas. E esses jovens já vivem com as novas formas no seu cotidiano, para baixar música, para marcar festinha, para marcar eventos, para marcar passeata. No dia a dia eles já vivem com as novas formas, então esse Estado que está aí não representa, porque é pra votar de quatro em quatro anos…como ele participa? Eu recebi uma mensagem no Facebook, durante as manifestações de Junho, de um cara que eu conheço aqui de Porto Alegre, deve ter uns 20 anos…ele disse “Branco, eu queria falar contigo porque te acho mais ou menos politizado. No tempo de vocês, vocês não podiam falar, não podiam se expressar, liberdade de expressão era proibida, iam presos. Hoje não, a gente fala o que quiser. Nós podemos falar, somos livres para falar. Só que ninguém nos escuta. Black Bloc neles”, o cara terminou assim. Preciso ser ouvido, preciso que alguém me escute. Isso foi Junho.
Aproveitando que falaste da questão do fechamento do Estado, gostaria de uma avaliação tua sobre o Gabinete Digital (projeto do governo do Rio Grande do Sul que buscou criar ferramentas de participação via internet).
Ele teve uma crise de identidade. Foi importante, talvez a única marca diferencial desse governo Tarso Genro, pelo menos sob a ótica que eu vivo. Mas foi bastante tímida, também. No primeiro momento do Gabinete Digital, me pareceu que eles ficaram muito focados nas ferramentas. Parecia “a informática do governador”. Construía uma ferramenta do “governador pergunta”, “governador responde”, “agenda do governador”, que é importante porque é uma experiência de novas formas de participação, mas achei que ficou muito focado nas ferramentas. E não tinha nessas ferramentas novas vínculos com aquilo que nós temos de histórico: Orçamento Participativo, Conselhos Populares…era uma coisa dissociada. E coisas muito simples. O governador pergunta, aí o governador responde…a TAM já tinha isso, de “fale com o presidente”. E em um segundo momento do Gabinete Digital ele deixou de ser uma coisa da tecnologia e passou a ser mais um espaço da comunicação digital do governo. O “Tarso 2.0” transitava pelo Gabinete Digital. Mudou toda a equipe, que era mais técnicos de Software Livre, e virou mais comunicadores, e ficou sendo o que a Secom deveria fazer em todo o governo. Ele disputou, confundiu o que seria o papel da Secretaria de Comunicação do Governo com o Gabinete Digital, e o Gabinete Digital ficou, pra mim, sem identidade. Ou era a construção de ferramentas para a participação, e aí ele ficou bastante tímido, e em um segundo momento era a comunicação 2.0 do governador, a comunicação interativa do governador. E eu acho que o auge de tudo isso foi nas manifestações de Junho, o melhor momento do Gabinete Digital foi nas manifestações de Junho, que foi usando não ferramentas construídas pela Procergs, mas ferramentas como o hangout, botaram o governador em tempo real dialogando com as mídias sociais em um momento de crise institucional que a gente estava vivendo no Brasil e no Rio Grande do Sul. Foi o melhor momento do Gabinete Digital. Agora, como experiência é positiva.
Qual a relevância das redes na disputa eleitoral, pensando especialmente na eleição nacional? Inclusive o Sérgio Amadeu disse que sem a internet o Aécio Neves teria vencido…
Eu concordo com ele. Não que eu não ache que a internet poderia ter sido mais decisiva, tanto para um lado quanto para o outro. Acho que ainda foi muito pouco explorada, pelo potencial que tem. Mas se não fosse a internet, com aquela capa da Veja na finaleira da eleição, não teríamos uma resposta. Por onde íamos dar essa resposta? Foi a internet que ajudou, o que fomos nas redes foi determinante para não termos perdido a eleição. Se não fossem as redes, o resultado eleitoral poderia ser diferente, e essa pequena margem talvez fosse favorável para o Aécio, e não para a gente. Então sim, as redes sociais foram importantes nesse processo todo. Mas eu acho que as campanhas oficiais foram campanhas muito conservadoras, muito focadas na visão que tem o marqueteiro, que não conhece o ambiente da internet. Foi muito focada na reprodução daquilo que ia pra TV, pro rádio, pros impressos do partido. Houve pouco diálogo e muito broadcast, muita publicação de cima pra baixo
E se mantiveram os núcleos isolados, com pouca interação com os divergentes.
Sim, mesmo os militantes ficaram naqueles núcleos, uma comunicação que não dialoga, não passa. Os dois lados não dialogavam entre si. Teoricamente a internet poderia ter servido para a discussão de uma plataforma. É que esse não é um problema só da internet. Essa bipolarização que existe no Brasil há mais de 12 anos empobrece a política, porque os militantes de esquerda passam…tudo é uma questão de oposição e situação. Se o buraco é um buraco em Porto Alegre, o cara dá uma patada no Fortunati. Se o buraco é em São Leopoldo, ele defende o prefeito. O mesmo buraco, a mesma situação. Se estão cortando árvores, depende de quem é o prefeito. Então tudo é uma questão de disputa eleitoral. Os jovens militantes dos partidos estão pautados pelo calendário eleitoral. Já estão falando em 2018. Perdemos a disputa política conceitual. Independente de termos ganho a eleição, nós tivemos uma grande derrota ideológica, nós perdemos nos conceitos. O Brasil que saiu das urnas é um Brasil muito mais conservador do que era alguns anos atrás. Perdemos nos conceitos. Abrimos mão de fazer disputas políticas, politizadas, sobre temas centrais. Sempre é uma disputa em relação ao período eleitoral. Junho, não. Os manifestantes de Junho tinham uma pauta política. De todos os lados, mas tinham uma pauta política que não estava presa ao calendário eleitoral. Queriam melhor Saúde, melhor Educação, transporte coletivo de melhor qualidade, gratuito. Tinha uma pauta política que não estava para ser direcionada para um governante ou para um partido que assumisse amanhã ou depois. Inclusive, muitas reivindicações de Junho não cabem nos marcos institucionais que nós temos hoje. Por isso que, do meu ponto de vista, foram revoltas antissistema. Não eram pautas que cabiam dentro dos marcos institucionais no Brasil.
O PT entendeu mal isso?
Mal, muito mal. E pagamos o preço nessas eleições. Predomina até hoje, mesmo pós eleições e a nossa quase derrota nacional, nos militantes do PT…os militantes se comportaram muito mal. Os militantes de esquerda, em junho de 2013, onde pela primeira vez milhões de jovens saem às ruas, jovens que tinham de seis a oito anos quando o Lula chegou no governo, jovens que estavam fazendo sua estreia na política, que até então publicavam ovo frito e festinha de aniversário no Facebook e passaram a publicar “mais Saúde, mais Educação, melhor transporte coletivo”…esses jovens, que estavam tendo sua estreia na vida política, foram chamados de “coxinhas”, de “agentes da CIA”, de “direita”. Enquanto o outro lado, a direita, soube usar melhor isso que estava acontecendo e dizer “estamos junto com vocês”. A análise dos gráficos mostra isso. Até o dia 17 de junho, só tinha 13 a 15% de manifestações na internet contra o PT e contra a Dilma. E o Brasil já estava nas ruas. E terminou junho com tudo no colo da Dilma. Houve também uma movimentação da mídia de massas, dos grandes meios de comunicação, que, até a vaia para a Dilma no Mané Garrincha (estádio de futebol em Brasília), chamavam os manifestantes de “bandidos”, “delinquentes”. Esse era o tom dos principais meios de comunicação do Brasil: Globo, Estadão. Eles hostilizavam os manifestantes e estavam contra as manifestações. Quando a Dilma foi vaiada no Mané Garrincha eles viram que essas manifestações poderiam ser manifestações contra o governo. E não era contra o governo, era contra o sistema político, que tinha um governo de esquerda, progressista. Mas não era uma manifestação contra a Dilma, “Fora Dilma”. Essa sensação de que os movimentos de Junho foram capturados pela direita, ou que foram dirigidos pela direita, organizados pelo “PIG” (Partido da Imprensa Golpista, como são chamados alguns meios de comunicação hegemônicos), é uma viagem dos militantes de esquerda do PT. Até hoje, pós eleições, eles continuam tendo uma avaliação de que os movimentos de Junho foram organizados para derrotar a Dilma, para derrotar o PT. Só tem os marcos eleitorais nas cabeças desses militantes. Se os caras estão lá para reivindicar mais democracia, mais participação, melhoria na Saúde, melhoria no transporte público, melhoria na Educação, a esquerda tinha que estar junto com essa galera, e não dizendo “vão pra casa, vocês são agentes da CIA”.
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