segunda-feira, 11 de abril de 2016

ASSISTA: Entrevista Exclusiva de Glenn Greenwald com ex-Presidente Lula

A trajetória de vida do ex-presidente do Brasil, Luiz Inácio “Lula” da Silva, é extraordinária. Nascido em extrema pobreza, Lula deixou a presidência em 2010, após exercer dois mandatos, com uma aprovação popular de 86%, sem precedentes, provavelmente destinado a desfrutar de um respeito quase universal no cenário do mundo e a ser lembrado como um dos maiores estadistas da História moderna. De forma similar ao caminho pós-governo seguido por Tony Blair e Bill e Hillary Clinton, Lula, desde o término de seu mandato, tem agregado um grande poder pessoal por meio de seus discursos e prestado serviços de consultoria a potências globais. O partido de esquerda moderada co-fundado por ele, Partido dos Trabalhadores (PT), já controla a presidência por quatorze anos consecutivos.

pesar disso, todo o legado de Lula agora está seriamente ameaçado. Um grave escândalo de corrupção envolvendo a empresa estatal petroleira do país, Petrobras, está inundando a elite econômica e política do Brasil, com o PT no centro de tudo isso. Protegida de Lula e sua sucessora escolhida a dedo, a ex-guerrilheira marxista e atual presidente Dilma Rousseff enfrenta uma ameaça real de impeachment (agora apoiado pela maioria dos brasileiros) e sua impopularidade, devido a uma recessão severa e difícil de tratar. Membros da alta cúpula do PT foram presos. Protestos de rua em massa, a favor ou contra o impeachment, se tornaram violentos recentemente, com agressões físicas cada vez mais comuns entre os manifestantes.
O próprio ex-presidente Lula foi citado na investigação criminal, levado coercitivamente pela Polícia Federal para interrogatório, acusado pelo ex-líder de seu partido no Senado de “comandar” um grande esquema de propinas e negociatas, foi alvo de grampos telefônicos feitos por investigadores que as gravações de suas conversas e acusado formalmente de receber e manter em presentes indevidos (incluindo uma sítio). Como resultado, seu índice de aprovação no Brasil caiu num primeiro momento, mas pesquisa divulgada ontem pelo Jornal Folha de S. Paulo revela que Lula divide com a ex-senadora Marina Silva (Rede) a liderança na corrida eleitoral para a presidência em 2018.

Graças ao forte apoio da maioria pobre da população brasileira, no cenário apresentado para 2018 Lula prevalece sobre outros políticos de destaque (os quais, em sua maioria, lutam contra acusações de corrupção), e acredita-se que ele vá concorrer à presidência novamente ao final do mandato de Dilma: seja em 2018, conforme esperado, ou mais cedo, em caso de impeachment ou renúncia da presidente. Nenhuma pessoa que tenha acompanhado a carreira de Lula – incluindo aqueles que querem vê-lo preso – pode descartar a possibilidade de que ele seja presidente do Brasil mais uma vez .

Lula nega veementemente todas as acusações contra ele e se considera uma “vítima” da classe plutocrática ainda poderosa no Brasil e de seus órgãos midiáticos, que moldam a opinião pública. Isso, embora a publicidade dos governos Lula e Dilma na mídia tenham ultrapassado a casa dos bilhões de reais.

Lula insiste que o PT está na mira por causa da inabilidade desses grupos em derrotar o partido ao longo de quatro eleições consecutivas, e do seu medo de que ele concorra e ganhe de novo. Há duas semanas, o The Intercept publicou uma longa matéria falando sobre o escândalo e sobre os perigos que ele traz à democracia brasileira, que escrevi com Andrew Fishman e David Miranda; na semana passada, publicamos uma versão condensada em um artigo de opinião na Folha de São Paulo. A conscientização de que o impeachment está sendo conduzido por, e iria beneficiar, políticos e partidos com acusações de corrupção muito mais sérias do que aquelas atribuídas a Dilma – que ainda não é formalmente processada -retardou o processo da campanha pró-impeachment que, apenas semanas atrás, parecia quase inevitável.

Na última sexta-feira, no Instituto Lula, em São Paulo, conduzi a primeira entrevista dada por Lula desde o recente surgimento dessas controvérsias. Discutimos sobre vários aspectos do escândalo de corrupção, da campanha pró-impeachment, das acusações contra ele, sobre o futuro dele e do PT na política e o papel da mídia dominante de direita no Brasil como incitadora de uma mudança no governo. Também discutimos as visões dele sobre uma série de outras questões políticas de debate acirrado, incluindo a nova lei brasileira antiterrorismo e espionagem, a guerra às drogas, as condições precárias do sistema prisional do país, os direitos LGBT, o aborto legal e o papel de grandes empresas como doadoras de campanha durante eleições no Brasil.

Conduzida em português, a entrevista de 45 minutos pode ser assistida abaixo; segue uma transcrição completa (a entrevista com legendas em português e a transcrição, também em português, disponível aqui):




Entrevista Exclusiva de Glenn Greenwald com ex-Presidente Lula from The Intercept on Vimeo.
Por  linkis

quarta-feira, 6 de abril de 2016

Golpe é 'cavalo de tróia' para a implantação definitiva do neoliberalismo

Segundo Eduardo Fagnani, a sociedade brasileira não é mais aquela de 1954 ou 1964: se tiver impeachment, não haverá trégua, vai ter luta!

O golpe é o cavalo de tróia para a implantação definitiva do projeto neoliberal no Brasil. O alerta é do professor de Economia da Unicamp, Eduardo Fagnani, pesquisador do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho (Cesit) e membro fundador do Fórum 21, que representou a entidade no encontro dos artistas e intelectuais pela democracia com a presidenta Dilma Rousseff, nesta quinta (31), no Palácio do Planalto.

Para ele, o golpe não é um fim em si mesmo, mas sim a mais nova estratégia adotada pelo capital para viabilizar seu antigo propósito de meter as mãos nos recursos públicos protegidos pela Constituição de 1988. “Eles querem implantar aquelas mesmas medidas que não conseguiram na década de 1990, durante o governo FHC, e também nos três primeiros anos do governo Lula, quando o então ministro Antônio Palocci comandava uma equipe econômica vinculada ao mercado financeiro”, afirma.

O professor avalia que as elites brasileiras não acompanharam os avanços registrados pela sociedade  desde 1960. Conforme ele, essas elites ainda adotam as mesmas práticas predatórias do passado e não conseguem conviver com antagonismos. “Como em 1964, elas querem a derrubada do regime democrático. Elas não conseguem conviver com o estado democrático e, por isso, partem para sua destruição e dissolução, o que ocorre através do golpe, ilegal e ilegítimo”, acusa. leia mais )

Fonte  Carta Maior

sábado, 2 de abril de 2016

A ousadia descarada do cínico Sérgio Moro


Moro não cometeu simples 'erros' ao vazar escutas telefônicas; ele cometeu crimes com dolo, e deve ser tratado como qualquer cidadão quando pratica delitos

Jeferson Miola
Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
“O fascista fala o tempo todo em corrupção.
 Fez isso na Itália em 1922, na Alemanha em 1933 e no Brasil em 1964.
 Ele acusa, insulta, agride como se fosse puro e honesto.
 Mas o fascista é apenas um criminoso, um sociopata que persegue carreira política. No poder, não hesita em torturar, estuprar, roubar sua carteira, sua liberdade e seus direitos.
Mais que corrupção, o fascista pratica a maldade.”

Norberto Bobbio, filósofo, jurista e pensador italiano.
 Em “A cura de Schopenhauer”, o psiquiatra e escritor norte-americano Irvin D. Yalom, ao analisar comportamentos psicopatas, se apóia na expressão iídiche “chutzpah”, que ele traduz como sendo “ousadia descarada, palavra sem uma correspondência exata em outras línguas, mas bem definida na história do menino que matou os pais e depois pediu clemência aos jurados por ser órfão”.

O Juiz Sérgio Moro, nos esclarecimentos remetidos ao juiz do STF Teori Zavascki sobre a interceptação e divulgação ilegal de conversas telefônicas da Presidente Dilma com o ex-presidente Lula, revela os traços de uma personalidade cínica, descarada. Ele parece o personagem saído do livro de Yalom – aquele que conscientemente assassina os pais e depois roga clemência e perdão do Tribunal por ser órfão!

Estamos dentro do vulcão da história, sugados na vertigem dos acontecimentos. Por mais afiadas que sejam as intuições e capacidades de análise, vários acontecimentos e fenômenos sociais relevantes escapam da compreensão imediata. Algumas experiências, por traumáticas demais, às vezes somente podem ser compreendidas na plenitude tempos após sua ocorrência.

Não temos o direito, porém, de menosprezar e subestimar os sintomas e sinais de uma engrenagem perigosa, de contorno claramente fascista, que está em movimento. O juiz Sérgio Moro – e também vários agentes públicos – são peças dessa engrenagem fascista de partidarização do Estado para aniquilar inimigos e adversários ideológicos.

Nas 31 páginas escritas ao STF, ele solicita “respeitosas escusas a este Egrégio Supremo Tribunal Federal” [sic]. Não dedica, contudo, uma única palavra de desculpas às vítimas da violência que perpetrou: Lula e Dilma. Ele, ao contrário, usa o calhamaço para atacar e tripudiar o ex-presidente Lula com ironias e insinuações.

Ele escreveu que “o propósito [da divulgação criminosa das conversas] não foi político-partidário” [sic], que “não teve por objetivo gerar fato político-partidário, polêmicas ou conflitos” [sic].

Mentira! Ele agiu de consciência e partidariamente para impedir a posse do ex-presidente Lula na Casa Civil e incendiar o país junto com a Rede Globo e a mídia golpista, que construíram uma narrativa canalha a partir de conversas coloquiais entre duas autoridades presidenciais.

Moro agiu com dolo, com consciência da lesão irreparável que causaria ao ex-presidente Lula e à Presidente Dilma. Com isso, ele não lesou apenas dois seres humanos, mas violentou a democracia, o Estado Democrático de Direito, a Constituição. Nas palavras do juiz do STF Marco Aurélio de Mello, ele “simplesmente deixou de lado a lei”, como fazem os justiceiros.

É incabível um pedido de desculpas do Moro. Ele deve, isto sim, ser suspenso do cargo de juiz e responder administrativa e funcionalmente no Conselho Nacional de Justiça e criminalmente no Poder Judiciário.

Moro não cometeu simples “erros” que poderiam ser desculpáveis; ele cometeu ilegalidades, abusos e crimes com dolo – e, por isso, deve ser tratado como qualquer cidadão/ã brasileiro/a quando da prática delituosa.

Moro até pode se livrar do julgamento e da condenação na Justiça, se for protegido por um corporativismo que emprega métodos que estão “nas origens do totalitarismo”, como diria Hannah Arendt.

Independente disso, Moro já está sendo julgado e condenado pela História.

Fonte : cartamaior

TICO SANTA CRUZ AO 247: “A INTERNET É O QUINTO PODER”


Líder do Detonautas, o compositor e vocalista Tico Santa Cruz diz, em entrevista ao 247, que a banda tem sido boicotada desde que ele tornou clara sua posição contra o impeachment da presidente Dilma, mas que isso não o intimida; também minimiza o fato de a maioria pedir o impeachment: "A maioria também já foi a favor do nazismo"; formado em Ciências Sociais, ele demonstra preocupação com a possibilidade de convulsão social caso Dilma seja afastada, mas diz acreditar que o impeachment não vai passar, mesmo com o desembarque do PMDB - "tem gente ali que é séria e vai segurar a debandada" - nem vai acontecer com Dilma o que aconteceu com Getúlio "porque na época não havia internet que é, hoje, o quinto poder"
1 DE ABRIL DE 2016 ÀS 17:47


Por Alex Solnik, ao 247 - Líder de uma das melhores bandas do país, que, mesmo sem ter espaço nos principais meios de comunicação bomba na internet ("Você me faz tão bem" com 10.035.710 visualizações; "O dia que não terminou", 5.845.835 visualizações), o compositor e vocalista Tico Santa Cruz diz, nessa entrevista exclusiva ao 247, que "Os Detonautas" tem sido boicotado desde que ele tornou clara sua posição contra o impeachment da presidente Dilma, mas que isso não o intimida.

O músico também minimiza o fato de a maioria pedir o impeachment: "A maioria também já foi a favor do nazismo". Universitário, formado em Ciências Sociais, ele acha que artistas do mainstream não se posicionam publicamente temendo boicote, mas longe dos microfones não é bem assim: "Eu já vi a Ivete Sangalo dizendo coisas como 'gente, cuidado, a política não é bem assim'", numa discussão sobre a presidente.

Preocupado com a possibilidade de convulsão social caso Dilma seja afastada, ele acredita que o impeachment não vai passar, mesmo com o desembarque do PMDB - "tem gente ali que é séria e vai segurar a debandada" - nem vai acontecer com Dilma o que aconteceu com Getúlio "porque na época não havia internet que é, hoje, o quinto poder".

Você é muito novo... quantos anos você tem?

Eu tenho 38.

Então, quando começou a "Nova República" você era um menino de oito anos...você nunca tinha visto uma confusão como essa de hoje, não é?

Cara, eu peguei o finalzinho do governo do Figueiredo e não tenho muitas memórias em relação a qual era o cenário político, lembro das movimentações das Diretas Já, dos meus pais comentando a respeito... mas a minha família não foi muito relacionada com a política mais militante, no campo da militância, assim, então, na verdade, toda a minha relação com a política vem de quando me comecei a interessar nas aulas de História e Geografia da escola e aí eu fui fazer Ciências Sociais na UFRJ em 97, na época das privatizações do governo Fernando Henrique. A minha faculdade sempre foi muito combativa e eu percebi que havia uma crise muito grave no Brasil... inflação alta... desemprego alto... fome... miséria...o governo sem conseguir dar rumo às questões sociais, embora estivesse ali dando os ajustes necessários econômicos.

Com Lula mudou alguma coisa?

Quando entrou o governo do presidente Lula eu durante muito tempo tive minhas críticas aos setores políticos do país, enfim, algumas críticas mais embasadas, outras imaturas, mas sempre acompanhei política, sempre estive próximo, sempre me considerei ativista dentro da área, depois que meu amigo de banda faleceu, foi assassinado aqui no Rio em 2006, eu me aprofundei um pouco mais nessa questão, sempre me considerei uma pessoa relacionada a causas humanistas, à questão dos direitos humanos e tudo o mais e aí, quando nesse ápice, que foi a reeleição da Dilma, em 2014 a coisa começou a tomar uma proporção um pouco perigosa, e eu percebi que setores que já tinham exercido o poder nos anos 90, e que não tinham sido positivos queriam voltar ao governo - não tinham sido positivos para a sociedade geral, e especialmente para as classes menos favorecidas, que são as que receberam mais atenção ao longo dos governos do PT. E naquele momento em que a opção era apenas a Dilma ou o Aécio ficou muito claro que não era vantagem nenhuma colocar o PSDB de volta no poder. Nesse momento foi que eu entrei para intervir, de alguma maneira, através das minhas redes sociais e da minha figura pública dentro desse cenário e aí eu entrei mesmo, de cabeça, nessa cena que a gente está vivendo agora, que é uma cena lamentável.

Por que "lamentável"?

O que eu observo é uma confusão generalizada por parte da sociedade que tem a indignação legítima com relação a milhões de problemas que o governo cometeu, milhões de casos de corrupção que não se restringem só ao governo, ao PT e essa confusão começa no momento em que "eles" escolhem um só e atacam esse único como se fosse o culpado exclusivo, ignorando o fato de que a gente vive num sistema político que é corrupto, que trabalha de forma corrupta, precisa de reformas políticas urgentes e infelizmente o PT acabou entrando também e fazendo parte disso, a gente não pode negar – e falta um pouco de autocrítica em relação a isso por parte do PT – mas não é essa a pauta. E nesse momento em que o PSDB perde a eleição e que o Brasil se divide, há uma rachadura entre as pessoas de todos os setores, a gente começa a ver claramente uma movimentação por parte desses setores mais conservadores, puxados pelo PSDB e por alguns setores do PMDB também, através do Eduardo Cunha e começam a fazer esse movimento de tentar travar o país dentro do Congresso Nacional, travar os movimentos necessários para tentar sair dessa crise na qual a gente acabou entrando.

Uma crise artificial ou verdadeira?

Artificial ou verdadeira, isso foi se agravando, agravando, agravando até chegar nesse limiar de tentar depor a presidente, presidente essa que não tem nenhum crime que possa justificar sua derrubada através do impeachment. Então, eu acho que é um período sombrio, é um período triste. A maioria das pessoas tem uma relação um pouco obscura com a política, primeiro porque criminalizam a política institucional; segundo, porque elas são guiadas por uma mídia seletiva, que só posiciona as notícias e comanda as informações de acordo com seus próprios interesses e, por fim, essa confusão entre a Lava Jato e a questão do impeachment que vai levando as pessoas a crerem que realmente a Dilma está sendo destituída do cargo por conta de algum crime relacionado com a corrupção, quando realmente não existe nenhum crime. Então, a gente vive tempos bem estranhos, assim, bem sombrios, eu não consigo visualizar um golpe como o que aconteceu em 64, a situação era diferente, tanto geopolítica quanto o cenário estrutural mesmo, mas é um golpe.

O que você acha dessa figura sinistra que só se veste de preto?

Naquele momento em que o Lula foi levado lá para o aeroporto de Congonhas...essa questão do Sergio Moro tem que ser analisada com os olhos bem críticos. Acredito que tem um viés aí, que é o viés que é a investigação da Lava Jato, onde ele sempre pendeu para um lado, figuras de outros partidos não têm o mesmo peso no martelo e eu acho que essa questão também do ego, da vaidade acaba sendo um fator determinante na vida de muita gente, embora isso possa ser só um viés psicológico, mas eu acho que o viés psicológico conta também nas escolhas, nas decisões, principalmente quando é influenciado pela opinião pública e esse viés psicológico fica muito evidente no momento em que o brasileiro depende um herói, quando existe essa crise de representatividade que a gente está vivendo, aonde as pessoas perguntadas quem elas colocariam no lugar da Dilma, no caso de uma derrubada do governo, elas não têm um nome para pôr e nesse momento abre-se espaço para figuras heróicas, o que é muito perigoso porque também abre espaço para o fascismo e a gente já vê alguns elementos do fascismo sendo semeados. A figura do Sérgio Moro preenche, no imaginário do brasileiro a figura do herói que está acima do bem e do mal. E ninguém está acima do bem e do mal. Nem o presidente Lula, nem a Dilma, nem o Moro tampouco.

O ego do Moro tem muito peso nisso tudo?

Eu acho que o problema todo nessa questão do ego, da vaidade é que quando ela se apossa da pessoa ela começa a agir guiada pelo ego e não mais pela razão. E aí a gente começa a perceber certas movimentações que são perigosas, até mesmo para a questão da República e da sanidade da população. Essa condução coercitiva do Lula, foi, no meu ponto de vista, uma questão já relacionada com a demanda da sociedade mais reacionária, mais conservadora que foi levada a acreditar que Lula é um bandido, é um criminoso, embora ele seja altamente investigado há tantos anos e não conseguem comprovar absolutamente nada e ainda assim ele se colocou à disposição para dar os depoimentos e foi conduzido de forma arbitrária para aquela situação onde, na verdade, se não tivesse havido uma força popular ali para poder impedir, certamente ele teria sido preso.

Você acha que a intenção era levá-lo para Curitiba?

Eu acho que a intenção ali era tirar uma foto do Lula preso. Eu acho que isso ficou um pouco evidente na medida em que depois, quando a poeira baixou, foi feita uma análise mais fria da situação e se viu que não existia motivo para a condução coercitiva. Os próprios juristas – eu tenho bastante contato com juristas – todos eles foram unânimes em dizer que aquela condução não tinha necessidade.

O mais estranho é que a mídia não investigou o que de fato aconteceu, não acha?

Os veículos de comunicação atendem a interesses muito particulares. E têm uma tendência de não deixar claro, ao menos para as pessoas que não se questionam a respeito dos acontecimentos. É evidente que eles trabalham para esses setores e a tese, se a gente tivesse no Brasil uma mídia mais democrática, no sentido da distribuição, sempre baseado por verdades e não por factoides, por fatos que são reais e eu acho que essa coisa da mídia ser sempre tendenciosa, naquele momento em que eu acho que foi um tiro no pé do Sergio Moro, o momento em que ele solta os grampos, envolvendo figuras que não estão sendo investigadas, envolvendo fatos que não são da alçada...

Ainda mais grampear uma presidente da República!

Jogam uma carta se garantindo não só nessa questão da imprensa que age de forma colaborativa, mas colocando em risco, sem dúvida nenhuma, a questão da soberania nacional. Porque houve um alarde gigantesco. Eu me lembro que o William Bonner chegou e disse que a imprensa não produz os grampos e, de fato, a imprensa não produz os grampos, mas a imprensa edita os grampos. Então, na medida em que edita, ela só mostra a parte que interessa.

Os jornalistas se apequenaram. E os que não seguem as diretrizes são demitidos, como aconteceu recentemente com Sidney Rezende, da Globo News.

As coisas estão ficando bem claras nesse sentido. No sentido de que existe um movimento bem forte, não só por parte da mídia, mas de alguns setores do Judiciário também. A gente vê que a OAB novamente embarca nisso, já havia cometido um erro histórico em 1964 e tenta embarcar nesse mesmo erro agora. É muito semelhante, mesmo, ao que aconteceu naquela época, e eu acho que essa garotada mais nova, que não tem essa vivência de um momento crítico, porque a galera que nasceu em 96, 97 e se tornou jovem em meados do ano 2000 e pegou um Brasil mais estruturado, óbvio, com problemas que sempre existiram, mas navegaram num mar mais tranquilo e, enfim não tem essa clareza histórica, de questionamento, de porque está acontecendo isso, quais objetivos estão por trás disso, sejam nacionais, sejam no âmbito mais geopolítico, de dominação da América Latina, dos setores mais conservadores que estão ligados a interesses americanos, do petróleo...

Não por acaso, o maior patrocinador desses movimentos de rua é o Grupo Ultra.

Eu acredito que há várias pessoas interessadas nessa mobilização. Deve ter bastante gente importante nessa organização, empresários... porque a cena transcende a nossa visão nacional para uma visão geopolítica internacional, a questão do petróleo e de outros interesses que estão envolvidos nesse tabuleiro de "War". São forças que sempre existiram e que sempre têm que ser combatidas de alguma forma. A gente observa que esse momento é o ápice dessa tentativa de conseguir sabotar a democracia. A presidente foi eleita, embora possa ter cometido equívocos, possa ter demorado para tomar decisões importantes, mas a questão da democracia está acima da questão ideológica e partidária. Uma vez que não tem crime não tem motivo para se mexer no Executivo.

Por que as pessoas estão acreditando em crime embora não haja?

Eu acho que fica difícil, para as pessoas que não entendem de política, que tratam a política como futebol, como se fosse um fla-flu, como se fosse uma coisa dicotômica, essa coisa binária – "quem é contra o impeachment é petista, é comunista" – discernirem as coisas. Faz parte do imaginário dessas pessoas essa questão de que quando você é contra o impeachment você está defendendo bandido, está defendendo corrupto, e isso é muito desagradável, é muito desgastante, principalmente para a gente que faz esse trabalho de tentar desconstruir essa narrativa. Eu faço esse trabalho na minha rede o tempo inteiro, tento mostrar para as pessoas que não é isso. Embora eu não seja petista, eu acho que agora é tentar barrar essa tentativa de golpe, eu estou usando todas as minhas forças para isso, é uma coisa que tem me causado um desgaste profundo, não só psicológico, mas físico e também um desgaste na minha família, entre meus amigos, um desgaste no meu trabalho, porque minha banda tem sofrido retaliação por conta disso, quer dizer, empresários que contratavam a banda e que eram simpáticos à banda começaram a não mais contratar shows...

Está acontecendo isso, é?

É um cenário bem cansativo na verdade. E eu me propus a ir até o final nessa luta contra o impeachment e quando a gente conseguir impedir esse impeachment, aí sim, tem que fazer uma autocrítica, não só a esquerda, mas o PT, o governo para chegar em 2018, porque realmente está complicado para todo mundo. Porque as pessoas se colocam em bolhas, e todo mundo se coloca nessa bolha de quem está a favor do impeachment e se engana. Porque se faz uma colocação como aquela achando que vai conseguir adesão e acaba tomando como resposta o contrário. Está todo mundo dividido. Tanto as pessoas que são favoráveis ao impeachment quanto as que não são.

As pessoas, na maioria, não sabem o que é impeachment. Porque o impeachment nunca chegou a acontecer. Collor renunciou antes de o processo chegar à terceira fase, que é o julgamento no Senado sob a presidência do chefe do STF.

E Collor nunca teve apoio popular... Além disso, uma coisa que tem que ser colocada na variável é a questão de uma convulsão social...e que as pessoas não estão levando em consideração. Eu venho fazendo esses alertas e tenho registrado tudo em vídeo. Minha rede tem um alcance muito grande. Algumas pessoas fazem muita chacota com essa questão, porque estão achando que são os donos do Brasil, que é uma coisa que muito me incomoda, como se o Brasil fosse deles. Quando as pessoas estão histéricas não conseguem agir com racionalidade. E a gente está vendo que a histeria é coletiva.

Publicações como a "Veja" têm culpa nisso?

A "Veja" virou uma publicação de ficção. Publica o que as pessoas gostariam que fosse verdade e não a verdade. Mas na internet também tem absurdos. Eu vi uma vez uma publicação do "Revoltados on line" fazem uma alusão à greve dos caminhoneiros que derrubou o Salvador Allende e colocando que era uma excelente estratégia porque resultou na ascensão do Pinochet. Uma coisa absurda! E isso tinha 50 mil compartilhamentos! Quer dizer, as pessoas estão reproduzindo conteúdos, não só da "Veja", como de outros lugares, de outras fontes que não têm nenhum compromisso com a história e as pessoas tomam isso como verdade. Eu sou uma das pessoas que sofro com essa coisa da divulgação de fatos falsos. "Detonautas" teve um projeto aprovado pela Lei Rouanet, em 2013, que não foi captado e as pessoas insistem em dizer que eu recebo pela Lei Rouanet, elas acham que a Lei Rouanet é um pagamento mensal feito pelo governo! Beira o ridículo! Quando você tem 300 pessoas repetindo isso no mesmo lugar é difícil reverter essa situação. As pessoas acham que eu recebo dinheiro do governo, que eu sou bancado pela Lei Rouanet!

Por que os artistas estão omissos?

Já há muitos anos, a classe artística – fora as raras exceções – não tem compromisso com nada, a não ser com seu próprio umbigo. Há vários artistas comprometidos, é, óbvio, mas eu me refiro ao mainstream. Os artistas que estão na rádio, na TV, que têm acesso aos grandes veículos de comunicação não se manifestam.

Você já ouviu a Ivete Sangalo, por exemplo, dizer alguma coisa?

A Ivete não fala publicamente, mas eu já ouvi a Ivete defender a Dilma. Não digo nem "defendendo a Dilma", mas colocando com cautela coisas como "gente, cuidado, a política não é bem assim"...eu já ouvi isso numa roda de artistas, onde as pessoas estavam conversando, e a coisa estava meio binária e ela se posicionou dessa forma. Mas eu não espero que o Luan Santana fale alguma coisa... que o Wesley Safadão fale alguma coisa...que duplas sertanejas importantes falem alguma coisa... porque eles temem retaliações. Não só retaliações em shows, mas em espaços de mídia também. É mais confortável e mais seguro para esses artistas de massa não se pronunciar. Porque quem se pronuncia, como Dinho, do Capital Inicial, tomam uma enxurrada de comentários negativos, de ofensas, e depois ele teve que se explicar. Alguns roqueiros se posicionaram fortemente, como Lobão e Roger, e, embora eu discorde da posição deles eu não renego a importância deles como artistas, eu acho positivo que se posicionem, mesmo que eu não concorde porque o que me ofende na classe artística é a omissão. É muito triste ver artistas que estão com medo em relação ao que possa acontecer.

Por que tua banda não está no mainstream?

A gente sempre foi marginal em relação ao cenário. O cenário engoliu a gente. Tudo o que o mainstream pôde fazer para afastar "Os Detonautas" ele fez. Mas não conseguiram porque hoje a gente tem a internet. O bloqueio que fizeram em relação ao "Detonautas" me permite um pouco mais de independência, porque o sistema nunca me deu espaço então eu também não devo nada a ele.

A Globo abre espaço para vocês?

A Globo já abriu espaços para a gente, a Globo sabe quem eu sou. Se a Globo abrir espaço para mim eu vou lá e vou falar. A menos que eles me proíbam de falar e então eu não vou. Mas eu não deixo de falar o que penso preocupado se vou ou não entrar na Globo.

O fato de parecer que a maioria seja a favor de derrubar o governo te preocupa ou intimida?

Claro que não. A maioria já foi a favor do nazismo, a maioria já foi a favor da escravidão, a maioria já foi contra o voto feminino, a maioria já foi a favor de muitas coisas que fizeram muito mal à humanidade. Nem sempre a maioria está no caminho certo.

Você é otimista em relação ao futuro?

Não sei se a palavra certa seria "otimista".

O que vai acontecer nos próximos meses? O que diz tua bola de cristal?

Eu vejo um cenário bem conturbado, bem revolto, essa movimentação pró-impeachment não vai ser tão tranquila assim... acredito que, se esse processo for adiante e passar para o Senado e a presidente for afastada vamos ter uma convulsão social, o que é, para mim, a coisa mais preocupante nesse momento, porque isso vai afetar a economia, vai afetar o quotidiano das pessoas. Isso é muito perigoso. Eu sei que os movimentos sociais não vão aceitar o impeachment de forma muito passiva. É o que eu tenho alertado sempre. Mas eu prefiro acreditar que a gente vai conseguir barrar o impeachment.

Getúlio ganhou o impeachment, mas continuou sendo pressionado até se suicidar...

É, mas não tinha internet naquela época. Não é mais uma narrativa única hoje. A internet, hoje, é o quinto poder. Se a mídia tradicional é o quarto, a internet é o quinto. E a gente está se articulando bem. Com a internet, eles não vão conseguir fazer o que fizeram com Getúlio, com Juscelino, com Jango...sou bastante otimista que a gente vai conseguir barrar isso aí, mesmo com o desembarque do PMDB...que é um desembarque patético, mas que já era previsto...o próprio PMDB está rachado, eles não vão sair como um todo. Tem gente ali que é séria e vai segurar a debandada.

Fonte: Brasil247

LULA: POR QUE TANTO ÓDIO PELA 1ª MULHER PRESIDENTE?


O ex-presidente Lula afirmou neste sábado (2), em ato contra o impeachment e a favor da democracia, em Fortaleza (CE), que os opositores precisam explicar o porquê de tanto ódio contra a primeira presidente do país; "Será que é ódio por que a empregada doméstica passou a ter direito neste país? Será que é ódio por que filho de pobre, negro, da periferia, passou a fazer faculdade, por que 22 milhões de empregos foram gerados em 12 anos, por que todos os trabalhadores organizados tiveram aumento de salário? Será que é por causa do Fies, do Pronatec, das escolas técnicas, do Minha Casa Minha Vida, do Bolsa Família e do aumento real do salario minimo?; Lula também falou sobre a possibilidade de reassumir a Casa Civil: "Quinta-feira, eu estarei assumindo a Casa Civil, se a Suprema Corte aprovar, para ajudar a presidente Dilma, andar de mãos dadas com ela e com vocês"; o ex-presidente disse também que "a melhor forma de chegar ao poder é pelo voto" e avisou: "o resto é golpe"; "Vamos falar para o Cunha e para o Temer: não vai ter golpe!", provocou; uma multidão acompanha o ato

O ex-presidente Lula afirmou neste sábado (2), em ato contra o impeachment e a favor da democracia, em Fortaleza (CE), que os opositores precisam explicar o porquê de tanto ódio contra a primeira presidente do país.

"Será que é ódio por que a empregada doméstica passou a ter direito neste país? Será que é ódio por que filho de pobre, negro, da periferia, passou a fazer faculdade? Será que é ódio por que 22 milhões de empregos foram gerados em 12 anos? Será que o ódio é por que todos os trabalhadores organizados tiveram aumento de salário? Será que é por causa do Fies, do Pronatec, das escolas técnicas, do Minha Casa Minha Vida, do Bolsa Família e do aumento real do salario minimo: Eles precisam explicar porque tanto ódio da primeira mulher que preside o país", afirmou.

Lula rebateu a tese de que o impeachment não é golpe. "Ninguém aqui é contra o impeachment que está na Constituição com base legal, por crime de responsabilidade, mas Dilma não cometeu nenhum crime, nenhuma irregularidade; por isso, defender impeachment hoje é, sim, ser golpista neste país", disse. "A melhor forma de chegar ao poder é pelo voto; o resto é golpe", complementou. "Vamos falar para o Cunha e para o Temer: não vai ter golpe!", provocou.

O ex-presidente afirmou que "eles não querem governar o pais para aumentar salário minimo, nem para para garantir as pessoas mais pobres o direito de subir mais um degrau". "Eles não aprenderam a dividir os espaços com o povo", afirmou.

Lula também falou sobre a possibilidade de reassumir a Casa Civil. "Quinta-feira, eu estarei assumindo a Casa Civil, se a Suprema Corte aprovar, para ajudar a presidente Dilma, andar de mãos dadas com ela e com vocês, para criar condições de melhorar a vida do povo", afirmou. "Nós temos que garantir a governabilidade à Dilma", frisou.

O ato em favor da democracia ocorre na Praça do Ferreira, no centro da capital cearense. Milhares de pessoas participam do ato e gritam palavras de ordem contra o golpe e a Rede Globo. Antes da chegada do ex-presidente, o grito mais comum era "Lula, me liga, me chama de querida".

Fonte: Brasil247

FICOU MUITO FÁCIL ESCOLHER O LADO CERTO DA HISTÓRIA

Aos indecisos sobre o momento político brasileiro, há uma questão importante a ser definida: do lado de quem querem estar? Dos peemedebistas Eduardo Cunha, Romero Jucá e Eliseu Padilha, que já foram citados em vários escândalos e sacramentaram a traição contra a presidente Dilma Rousseff? Dos tucanos José Serra e Aécio Neves que foram a Portugal pregar a ruptura da ordem democrática? Ou de Letícia Sabatella, que mesmo fazendo oposição ao governo da presidente Dilma Rousseff, foi ao Palácio do Planalto defender a democracia? Quem sabe, então, de Chico Buarque, que, depois de ter vivido 1964, agradeceu aos jovens que foram às ruas ontem e lhe deram a certeza de que a tragédia do passado não se repetirá no presente? Ou, ainda, de Wagner Moura, que, num artigo cristalino, cravou que Dilma é vítima de um golpe clássico? Nunca foi tão simples optar entre o certo e o errado
 Em tempos de intensa polarização política, milhões de brasileiros já foram às ruas para se manifestar contra e a favor do impeachment da presidente Dilma Rousseff. Se no dia 13 de março, multidões defenderam sua saída, o troco veio nos dias 18 e 31 do mês passado, quando muitos gritaram, em várias cidades do País, o coro "não vai ter golpe".

No entanto, há ainda aqueles que permanecem indecisos. Discordam dos rumos do governo e sofrem com a crise econômica, que, em grande medida, decorre da crise política, mas também sentem o cheiro de algo estranho no ar.

A estes, os fatos da semana podem ter sido pedagógicos. Tudo começou com a traição do PMDB à presidente Dilma Rousseff, imortalizada numa foto constrangedora, que uniu Eduardo Cunha, Romero Jucá e Eliseu Padilha como os futuros donos do poder, ao lado do vice-presidente Michel Temer (leia mais aqui).

Em Portugal, num seminário organizado pelo ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, o senador Aécio Neves (PSDB-MG), responsável maior pela crise, por não ter aceitado sua derrotada nas urnas, voltou a defender que seu golpe não é golpe (leia aqui). E o senador José Serra (PSDB-MG), que prometeu abrir o pré-sal à norte-americana Chevron, disse que se os militares tivessem a mesma força do passado, o golpe já teria ocorrido (leia aqui).

Democracia e resistência

No campo oposto, a semana foi também marcada por manifestações emblemáticas. No artigo mais importante da semana, o ator Wagner Moura afirmou que Dilma está sendo vítima de um golpe clássico (leia aqui).

Ontem, foi a vez da atriz Letícia Sabatella, em meio a diversos artistas e intelectuais, se pronunciar em defesa da democracia, no Palácio do Planalto, mesmo sendo opositora ao governo da presidente Dilma (leia aqui). À noite, Chico Buarque, uma das vítimas do golpe militar de 1964, agradeceu aos jovens que se manifestavam em defesa da democracia no Rio de Janeiro. Segundo ele, essas pessoas lhe davam a segurança de que a tragédia do passado não se repetirá no presente (leia aqui).

A verdade é que nunca foi tão fácil escolher entre o certo e o errado, não apenas no presente, mas também diante da História.

Fonte brasil247